São Paulo, quinta-feira, 2 de maio de 1996
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Governo combate 'profissional da chuva'

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O governo de Pernambuco iniciou ontem uma operação para conter a ação dos "profissionais da chuva", homens e mulheres que se especializaram no desvio de alimentos e objetos doados a desabrigados.
Segundo o governo, os "profissionais" atuam nos abrigos provisórios e agem durante a distribuição das doações, infiltrando-se entre os desabrigados ou invadindo os depósitos onde estão estocados os produtos.
"São pessoas que, apesar de miseráveis, não sofrem com as chuvas", disse o secretário de Imprensa do Estado, Jair Pereira.
Segundo ele, os "profissionais" são responsáveis pelo desvio de até 5% do que é doado.
A Agência Folha presenciou a ação de um desses grupos, ontem, na escola municipal de Olinda Norma Coelho.
Cerca de 50 pessoas tentaram invadir o local durante a distribuição de cestas básicas a 306 desabrigados. A polícia foi acionada e os "profissionais" se dispersaram.
"Esse é o nosso maior problema", disse a diretora da escola, Andréa Almeida. "Eles tentam roubar comida e até os pertences dos flagelados."
Para prevenir a ação desses grupos, o governo do Estado decidiu não divulgar os locais onde estão estocados os alimentos.
Decidiu também cadastrar todos os desabrigados em três listagens elaboradas por três órgãos de assistência social. O policiamento durante a distribuição das doações também deverá ser reforçado.
Mais dois corpos
Ontem de manhã, mais dois corpos foram localizados pelas equipes de resgate na localidade de Córrego do Boleiro, zona norte de Recife. Com isso, o total de mortos nos deslizamentos aumentou para 51, segundo a Defesa Civil.
Na semana passada, um menino também já havia morrido.
Dez pessoas ainda estariam desaparecidas. A procura pelos corpos deve prosseguir por mais dois dias. Com a melhora do tempo, os desabrigados começaram a voltar para casa. Ontem, segundo a Defesa Civil, estavam ainda nos abrigos 1.813 pessoas.
Esse número pode aumentar amanhã, com o início da operação de retirada das famílias que ainda permanecem nas áreas consideradas de risco nos morros.
Segundo o comandante da Defesa Civil, coronel Artur Paiva, o maior obstáculo é a resistência dos moradores em sair das casas. Assistentes sociais e psicólogos ajudam os técnicos a convencê-los.

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