São Paulo, sexta-feira, 3 de maio de 1996
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Massacre foi encomendado por R$ 100 mil, diz testemunha

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA E DA AGÊNCIA FOLHA

O gerente de uma fazenda deu um depoimento ao ministro da Justiça, Nelson Jobim, informando que fazendeiros do Pará contribuíram financeiramente, a pedido da Polícia Militar do Estado, com a operação que resultou no massacre de 19 sem-terra, no dia 17.
A informação, veiculada ontem pelo "Jornal Nacional" (Rede Globo), foi confirmada pelo chefe de gabinete de Jobim, José Gregori. "É um depoimento gravíssimo. Estamos verificando a sua consistência. Temos de agir com toda prudência", disse.
Segundo Gregori, a suposta testemunha disse que, na ocasião, o dono da fazenda em que trabalha estava no exterior. A Polícia Federal está checando as informações.
O diretor da PF, Vicente Chelotti, está acertando um novo depoimento do gerente da fazenda.
Segundo Gregori, o gerente teria dito a Jobim ter visto dois pistoleiros da região participarem da operação vestindo farda da PM. Ele acusa funcionários da fazenda Macaxeira conhecidos como "Jamaica" e "Carioca". Eles negam.
Entrevista
Em entrevista ao "Jornal Nacional", a testemunha revela que o coronel Mário Pantoja, comandante da operação contra os sem-terra, teria exigido R$ 100 mil de fazendeiros da região, armas e munição para retirar os sem-terra da estrada. Segundo Gregori, o grupo teria conseguido R$ 85 mil.
"O coronel Pantoja tinha pedido uma propina de R$ 100 mil que era para ajudar no deslocamento da Polícia Militar porque a polícia estava sem condições de deslocamento, que precisaria de armas e precisaria de munição", disse.
O entrevistado foi apresentado como fazendeiro no telejornal.
A testemunha disse ter recebido de Plinio Pinheiro Neto, dono da fazenda Macaxeira, pedido de R$ 5.000 para que o coronel da PM fizesse a desocupação da estrada.
"Depois ele mudou o rumo da conversa. Ele me disse que dez pessoas precisariam morrer. Os líderes dos sem-terra. Disse que o coronel ia facilitar a entrega de armas e fardas para os pistoleiros. Eu falei que não entraria nesse jogo sujo."
Pinheiro Neto, também ouvido pelo "Jornal Nacional", negou a acusação: "É mais uma fantasiosa versão que se cria em torno deste triste episódio". O comando da PM foi procurado e não se manifestou sobre o testemunho.
O gerente é goiano, tem entre 35 e 40 anos, é casado e tem filhos. Sua identidade está sob sigilo e ele está sob proteção da PF.
O secretário de Segurança do Pará, Paulo Sette Câmara, disse que a acusação da suposta testemunha é "extremamente grave".
"Isso pode abrir um precedente para uma reformulação geral na PM de todo o Pará", disse.

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