São Paulo, sexta-feira, 3 de maio de 1996
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Medidas do BC não reaquecem economia

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

As recentes medidas do Conselho Monetário Nacional, ampliando prazos de financiamento e reduzindo moderadamente os juros para quem toma empréstimo, não vão reaquecer a economia. E nem era essa a intenção do governo.
Esta é a interpretação dominante nos meios econômicos, e que tem a confirmação informal de membros da equipe econômica.
"Não foram soltas as amarras principais da economia", concorda o ex-ministro Mailson da Nóbrega, vice-presidente do Banco BMC. Essas amarras são os compulsórios e os juros altos para o tomador de empréstimo.
Compulsórios são os depósitos que os bancos são obrigados a deixar no Banco Central. Por exemplo: de cada R$ 100 que um banco recebe em depósito à vista, precisa deixar R$ 83 no caixa do BC, sem remuneração.
O BC tem hoje cerca de R$ 42 bilhões nessa conta. É expressivo. É dinheiro que deixa de irrigar a economia, que poderia estar financiando investimentos e vendas.
Sem riscos
Essa é a peça principal da política monetária restritiva do BC, com o objetivo de manter a economia em marcha lenta. Sem alívio substancial nos compulsórios, não haverá fôlego novo para a economia.
O CMN eliminou qualquer restrição de prazo nos crediários e financiamentos. O prazo agora pode ser de cinco, seis anos. Mas continua faltando o dinheiro para fazer o financiamento.
E sendo escasso o dinheiro, os juros são maiores para quem quer empréstimo. Por isso, deve ser pequeno o alívio a ser proporcionado pela redução de 12% para 6% no Imposto sobre Operações Financeiras, nos negócios com pessoas físicas.
Para Mailson, as últimas medidas podem dar algum empurrão nas vendas de bens de consumo duráveis, especialmente automóveis e eletroeletrônicos.
Mas nada significativo, mesmo porque esses setores já vinham bem e já tinham financiamento de longo prazo com a utilização de recursos captados no exterior.
Não foi desta vez que BC e Ministério da Fazenda sinalizaram uma mudança em sua política. Ao contrário, diz Mailson.
Para ele, o governo mostrou que "continua muito cauteloso, não quer riscos e não aceita qualquer medida que represente, ainda que remotamente, uma ameaça à estabilidade do real."
Traduzindo, continua sendo prioridade manter a inflação no chão, mesmo à custa de crescimento mínimo.
Segundo Mailson, o melhor efeito dessas medidas está em desestimular o recurso a agiotas, que ofereciam os prazos que os bancos não podiam oferecer.

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