São Paulo, segunda-feira, 6 de maio de 1996
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Roqueiros saúdam retorno do Kiss

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Depois de 15 anos, o lendário Kiss está voltando com sua formação original. Paul Stanley (guitarra 1), Ace Frehley (guitarra 2) Peter Criss (bateria) e Gene Simmons (língua). Já avisaram que vão rodar o mundo numa megaexcursão de dois anos, tocando em todos os países da face da Terra.
Quem gosta de rock saúda essa volta de joelhos. Principalmente pela presença de Peter Criss, que passou dez anos desaparecido e deu origem a todo tipo de lenda (o jornal popular inglês "The Sun" chegou a encontrar um mendigo em Los Angeles que dizia ser Criss; mentira, claro).
Na cena do rock do final dos anos 70, o Kiss é uma das poucas coisas contra a qual o punk não se revoltou. A bile que o punk expelia tinha como alvo a medonha grandiosidade de Jefferson Airplane, Pink Floyd, Led Zeppelin.
Ou seja: aqueles grupos que cobriam seu som com um verniz "orquestra", "místico" ou qualquer outra asneira supostamente artística. O Kiss não se metia a nada. Rostos pintados (grande idéia), solos simples, letras com muito sexo e alusões a mulheres gostosas (e para que mais alguém entra numa banda de rock, a não ser para fazer sexo com o maior número possível de pessoas?).
Se tomarmos Elvis Presley como a gênese esquizofrênica do rock, Kiss é filho direto do Elvis rebolante, meio negro meio branco, jeca embebido em fluidos sexuais.
E um grupo como o Nirvana seria derivado de um outro Elvis, também seminal, mas balofo, drogado, que só acordava se lhe enfiassem um algodão molhado em cocaína no nariz, porque nem tinha força para aspirar a coisa.
Lembro de um documentário sobre bandas novas de rock em que um garoto dizia seguir fielmente o conselho de "ficar longe das mulheres", dado por seu ídolo, ninguém menos que o cafa-mor Paul Stanley.
Daí, cortava rápido para o próprio Stanley, completamente bêbado, cercado de gatas e dizendo algo na linha de "não lembro de ter falado nada disso". Essa excursão do Kiss deve ser aberta pelo Stone Temple Pilots, que está penando para confirmar algumas datas porque seu cantor, Scott Wieland, voltou pela enésima vez a uma clínica para recuperação de dependentes de heroína. Se os californianos do STP conseguirem tocar com o Kiss, vai ser legal para eles. Boa chance para os meninos aprenderem a driblar a autodestruição com os mestres.
Que curtiram muito mais. E sofreram muito menos.

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