São Paulo, segunda-feira, 6 de maio de 1996
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Falhar é humano, levante a cabeça e siga em frente

Medo, ansiedade e nervosismo podem causar a broxada

ERIKA SALLUM; LAURA MATTOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Como diz o Titã Marcelo Frommer, "quem tem pinto broxa". Ou, ao menos, tem chances de broxar. Difícil aceitar essa realidade. Rola preconceito, medo, vergonha, grandes encanações. O melhor a fazer é entender do assunto e saber como se virar no caso de "ele" falhar.
Entre 1.558 entrevistados de 12 a 19 anos, 42,1% têm medo de falhar na hora H, aponta a pesquisa "Sexualidade e Plano de Vida na Adolescência", da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. E o medo, seja qual for, é justamente uma das grandes causas de uma broxada.
O estudante Gabriel Carvalho Araújo, 19, broxou a primeira vez com uma garota de quem ele estava muito a fim. "Nunca esperava que fosse rolar com ela. Eu fiquei muito nervoso e broxei. A primeira coisa que eu pensei foi 'por que logo eu?'."
Medo de transar com alguém mais experiente também pode levar à falha. Aos 19 anos, Ivan Cavalheiro, hoje com 23, ficou apavorado com os dez anos a mais da mulher e o melhor da noite não aconteceu.
"O medo da má performance é o grande inimigo do homem. Em maior ou menor intensidade, todo homem se cobra uma conduta sexual que, quando não atingida, cria problemas, como a broxada", diz o urologista e professor de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), Antônio Pompeo.
Certas situações também podem desfavorecer o desempenho. Drogas e bebida em excesso interferem no metabolismo e, portanto, na performance sexual. Gabriel atesta: "Na hora, você sente tesão pela garota, mas com bebida não dá".
Escada de prédio, quarto do pai ou elevador podem ser locais altamente excitantes ou realmente broxantes, dependendo de como você lida com situações de perigo.
Rodolfo Figueiredo, 20, que broxou há dois anos com uma namorada, passou por uma situação nada propícia a ele. "Tentamos uma aventura e fomos transar no sótão do meu prédio. Fiquei com medo que alguém chegasse e não deu muito certo", diz. O urologista Pompeo confirma: "Situações de perigo geram insegurança e podem causar falha".
Segundo o médico, 95% a 98% dos jovens com queixas sobre o desempenho sexual (impotência, ejaculação precoce, etc.) não apresentam problemas orgânicos, mas psicológicos. E mais: "Não existe um número de broxadas que diga se o garoto é impotente ou não. Se ele começar a não ter ereção na maioria de suas transas, é sinal de que algo -mente ou corpo- não está bem. Em geral, é a mente", diz Pompeo.
Alguns comportamentos ajudam a provar que o problema é só psicológico. É o caso de quem falha com a menina, mas tem uma performance sexual excelente ao se masturbar sozinho. Ou então alguém que transava perfeitamente com a ex-namorada, mas passou a broxar com a atual. As falhas pintaram, apesar de o organismo estar em perfeitas condições.
A sociedade também contribui. "Em todo lugar vemos padrões de beleza e de desempenho sexual muito definidos e cada vez mais impossíveis de serem alcançados. Quem não se encaixa nesses padrões -e é a grande maioria dos homens- se frustra, fica inseguro e falha mesmo", diz a psicóloga Jônia Felício, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
O fato é que a ansiedade, o medo, entre outras encanações, refletem mesmo no processo de ereção (veja quadro abaixo). E, uma vez broxado, o pênis só volta a endurecer quando o nervosismo passar.
(ERIKA SALLUM e LAURA MATTOS)

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