São Paulo, segunda-feira, 6 de maio de 1996 |
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Cinema capta três momentos de transformação
INÁCIO ARAUJO
Mas o andamento é muito outro. A linda mulher da matinê (Julia Roberts) é uma prostituta por quem Richard Gere se apaixona. Gere é um rico e santo homem e Roberts, no fundo de seu ser, uma madame. Muito bem. Mas a virtude do filme, se virtude há, consiste em captar o casamento entre dinheiro e beleza como fundamento de um novo "jet set", o mundo do "eu sou atriz e modelo", e captá-lo no momento (fim dos anos 80) em que busca sua legitimidade. "Bye Bye" é outro filme que se funda em certo irrealismo. Os personagens da Caravana Rolidei, que percorre o Brasil, são belos atores globais: Wilker, Betty Faria etc. Isso certamente tem a ver com seu sucesso. Mas o mérito de Carlos Diegues, aqui, foi ter usado a fantasia para uma visada do Brasil na entrada da década de 80. O país, que se modernizara loucamente a partir de 1964, começava a emitir sinais de que uma grande crise chegava. "Bye Bye" é um adeus à cultura do homem cordial, vencida pela industrialização. É também um filme com um pé em cada margem: ali convivem o sentimento nostálgico e o sentido de urgência da mudança que se impõe e já não pode ser negada. Mais cerebral, "Sementes da Violência" (Globo, 2h10), de 1955, também percebe duas crises bravas a caminho: uma, a da separação da sociedade em camadas muito específicas (uma delas destinada à marginalidade), outra, a dos jovens em geral, num momento em que a rebelião dos anos 60 começava a se gerar. (IA) Texto Anterior: O mercado está agitado, mas há pouca ousadia Próximo Texto: Dia tem Clint e clássicos Índice |
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