São Paulo, terça-feira, 7 de maio de 1996
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PMs negam ter ouvido réu confessar

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Os policiais militares Sérgio Borges e Hélio Vilário negaram ter ouvido uma suposta confissão de Jurandir Gomes de França, preso sob a acusação de participação na chacina da Candelária, em 23 de julho de 1993.
Borges, Vilário e França foram acareados ontem pelo delegado Jorge Serra, diretor da DDV (Divisão de Defesa da Vida) da Polícia Civil.
Há sete meses, Borges e Vilário disseram em depoimento à polícia que, no Natal de 93, na carceragem da Polinter, ouviram França confessar seu envolvimento na chacina dos oito menores de rua.
França sempre negou a acusação. Ao deixar a DDV, ele gritou para os repórteres. "Sou inocente! É tudo mentira! Sempre falei que sou inocente!".
Para tirar as dúvidas, o delegado decidiu acarear os três. Na acareação, os PMs modificaram suas declarações.
Conversa de bêbado
Borges e Vilário disseram que deduziram a participação de França na chacina por causa de conversas mantidas na cadeia sobre as ocorrências na Candelária.
"Na época nos pareceu uma confissão. Hoje sabemos que o Jurandir estava apenas falando do assunto. Foi uma conversa de bêbado na cadeia. Ele não confessou. Apenas falou de suas suspeitas", afirmou Borges após a acareação.
A acareação beneficiou França, cujo julgamento está marcado para o próximo dia 27. Contra ele há apenas o reconhecimento de um menino de rua. Nem os promotores nem a DDV estão dando valor aos reconhecimentos dos sobreviventes.
Laudo sobre revólver
O diretor da DDV recebeu ontem o laudo pericial do ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli) sobre o revólver 38 apreendido na casa do PM Nelson Cunha, que confessou ter atuado na chacina.
O laudo não é conclusivo sobre o uso do revólver naquele dia. Das 12 balas achadas pela polícia nos cadáveres e nos locais das mortes, apenas duas podem ter saído da arma, concluiu a perícia.
Uma das balas foi recolhida no corpo de um menino morto na Candelária. A outra estava no aterro do Flamengo, perto dos dois cadáveres lá abandonados pelos matadores.
O diretor da DDV deve ouvir hoje um homem de nome Francisco, que teria visto os quatro principais acusados do crime limparem o Chevette usado pela quadrilha, na madrugada da matança.
Francisco foi procurado ontem de manhã na rua Cândido de Oliveira, no Rio Comprido (zona norte do Rio), por policiais da DDV. Não foi encontrado. À tarde, ele telefonou para o delegado, que o convocou a prestar depoimento.
Até sexta-feira o delegado deve libertar o soldado Nilton de Oliveira, da PM, preso sob a suspeita de participar da chacina. Nada há de concreto contra ele.

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