São Paulo, terça-feira, 7 de maio de 1996
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Israel rebate vídeo e mostra relatório

DAVID USBORNE

DAVID USBORNE; ROBERT FISK
DO "THE INDEPENDENT", EM NOVA YORK

General apresenta versão do país sobre ataque no Líbano; ONU pode 'abafar' informações de gravação

ROBERT FISK
Israel lançou uma campanha na ONU para desviar acusações de que o país mirou intencionalmente contra refugiados no Líbano. Há indicações de que um relatório sobre o assunto será "abafado".
No ataque israelense à base da ONU em Qana (sul do Líbano), no dia 18 de abril, 102 pessoas morreram. Um relatório da ONU diz que o ataque foi deliberado.
O comandante militar responsável pela ofensiva israelense, general Dan Harel, apresentou para autoridades da ONU informações militares (até mesmo fotos aéreas e mapas detalhados) com supostas provas contrárias ao relatório da ONU, ainda não divulgadas.
"Isso não ocorre em um país democrático como Israel", disse. Ele foi interrogado sobre a presença de um avião de reconhecimento de Israel no local. Segundo autoridades da ONU, a presença do avião prova que as forças israelenses sabiam onde suas bombas estavam caindo. O avião de espionagem é conhecido como "zangão".
O vídeo
O general Harel disse que o "zangão" foi despachado ao local "logo depois" do alerta da ONU de que a base tinha sido atacada.
Mas um vídeo amador mostra o avião voando na área antes e durante o bombardeio de Qana.
O Líbano já havia pedido para mostrar o vídeo na Assembléia Geral da ONU há vários dias.
Os países árabes estavam se preparando ontem para exigir ação do Conselho de Segurança da ONU sobre o bombardeio.
Estava previsto para ontem à noite que o secretário-geral Boutros Boutros-Ghali desse ao Conselho de Segurança um resumo dos achados do relatório.
Havia grande especulação em Nova York sobre o que Boutros-Ghali faria com o informe. Acredita-se que ele esteja sob pressão dos EUA para diminuir o impacto do documento, evitando assim problemas diplomáticos.
Críticas à ONU
A reputação da ONU também pode ficar abalada pelo conteúdo do informe. Há nele indicações de que os soldados da sua força de paz sabiam que os guerrilheiros do Hizbollah que atacavam o norte de Israel se escondiam na base.
A versão israelense de que seus soldados tinham mapas antigos e que as coordenadas erradas foram usadas no bombardeio provocaram descrédito geral entre diplomatas da ONU. "A base está lá há 18 anos", disse um europeu.
O oficial responsável pela base também rejeitou a versão de Israel. "A 'margem de erro' israelense era grande demais para dizer que foi um erro. Havia dois helicópteros israelenses observando o bombardeio", disse o tenente-coronel Wame Waqanivavalagi, que estava no local na hora do ataque.

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