São Paulo, quarta-feira, 8 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Futebol é espetáculo que busca o desequilíbrio

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Isso, aliás, é o que passa pela cabeça de muitos tricolores, mosqueteiros, peixeiros, lusos, inconformados com a fantástica campanha palestrina.
Eis, porém, uma soma de equívocos tão grande quanto a diferença existente entre o Palmeiras e seus velhos adversários. Em primeiro lugar, futebol é um espetáculo de competição que tem como objetivo apurar o melhor. Ou seja, o futebol busca o desequilíbrio, o império do mais habilitado. Se isso é politicamente correto ou não é outra história. Em segundo lugar, sempre os clubes mais ricos se impuseram sobre os mais pobres, embora nem sempre por esse motivo.
O memorável Santos de Pelé, por exemplo, nasceu na metade dos anos 50 sem Pelé ainda, com um timaço forjado em parte nas praias de Santos, em parte com os chamados refugos dos outros clubes grandes, do Rio e de São Paulo. Isso, porém, não o impediu de varar os anos 60 contratando a fina flor do nosso futebol, a peso de ouro na época, como Gilmar, Mauro, Carlos Alberto, Orlando Peçanha etc.
Por fim, esse Palmeiras que aí está batendo todos os recordes é mais fruto da imprevidência dos seus rivais antigos do que do poderio econômico da multinacional.
Com, talvez, uma única exceção: Cafu, envolvido numa negociação milionária e antiética. Mesmo nesse caso, a saída de Cafu do São Paulo, onde criara raízes, deu-se mais pela incompatibilidade do jogador com o técnico Telê -à época, o todo-poderoso do Morumbi- do que por razões financeiras. Assim como foi Telê quem deletou Elivélton e recusou a volta de Muller. Elivélton, depois de breve estada no Japão, voltou para o Corinthians. Finda a temporada, ficou mofando, à espera da renovação de contrato que não aconteceu.
Junte-se a eles o volante Flávio Conceição, hoje titular da seleção de Zagallo, levado do Rio Branco ao Morumbi pelas mãos do folclórico João Avelino. Conceição vagou à sombra dos Pintados e Dorivas até encontrar uma fenda no muro que separa tricolores e alviverdes na Barra Funda.
Rivaldo já era uma estrela quando se transferiu do Mogi para o Corinthians. Apesar disso, a diretoria corintiana esqueceu-se de estabelecer o preço do passe do jogador. No fim do empréstimo, perdeu Rivaldo para o Palmeiras.
E a dupla Djalminha-Luizão? Ambos, juntamente com Fábio Augusto e Marcinho, foram oferecidos num pacote fechado com fita de seda ao Corinthians, que devolveu o presente ao Guarani.
Os demais jogadores, como Velloso e Amaral, ou são crias da casa ou vieram a preço de banana, como Sandro, Júnior e Cléber. Resumindo: onde entra nessa história de glórias o poder econômico do selvagem capital internacional?

Texto Anterior: Brasileiros decidem vaga no Olímpico
Próximo Texto: Em São José do Rio Preto
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.