São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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Ministro diz que prevenção custa pouco

MARTA SALOMON; ELZA PIRES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A saúde brasileira está menos na UTI (Unidades de Terapia Intensiva) e mais nas pranchetas de agentes comunitários -pessoas que circulam na vizinhança em troca de um salário mínimo e cuidam de promover, cada uma, o bem estar de 150 famílias.
A rotina é repetida uma vez por mês e já tem resultado para mostrar. Com a tarefa de prevenir doenças, os agentes comunitários se multiplicaram, principalmente no Nordeste e ajudaram a reduzir os índices de mortalidade infantil.
Fazem trabalho de formiguinha. Sem formação médica, eles ensinam cuidados com a saúde e levam os doentes até uma equipe formada, aí sim, por um médico, uma enfermeira e um auxiliar. "É um programa barato", computa o ministro da Saúde, Adib Jatene.
Imposto sobre cheques
Aliado a programas de saneamento e vacinação, a frente de prevenção à doença poderá, com o tempo, mudar o perfil da saúde brasileira, aposta o ministro.
A aplicação de dinheiro nesses programas está longe de ganhar a maior fatia das verbas consumidas pela saúde pública no Brasil, assim como programas de fiscalização sanitária, sacrificados quando o dinheiro é curto.
Parte do orçamento da prevenção à doença em 1996 depende da aprovação, pela Câmara, da nova versão do imposto sobre cheques, a CPMF, que poderá arrecadar 0,25% de toda a movimentação financeira feita no país.
O imposto é controvertido. Há quem considere que o ministério poderia obter ganhos com melhor gestão do que já possui.
A atenção especial que o projeto de agentes comunitários ganhou segue uma lógica matemática: é muito mais barato tratar da prevenção que cuidar da doença.
Imunização
Um exemplo usado pela Fundação Nacional de Saúde compara o gasto com o tratamento da hepatite tipo B com o custo da vacina (US$ 3,45 por cada uma das três doses suficientes para imunizar uma pessoa).
No ano passado, o ministério registrou 5.601 casos da doença. Prevê-se que 10% vão evoluir para a forma crônica e precisarão de um medicamento que custa cerca de R$ 6 mil. Alguns caso se transformarão em câncer de fígado e exigirão transplante -mais caro ainda.
Os agentes comunitários começaram a aparecer no Brasil durante a epidemia de cólera, no início do governo Collor. Mostra semelhanças ao modelo de Cuba, onde os médicos passaram a viver na comunidade que cuidavam.
Hoje, os agentes são 40 mil. Até 1998, serão 50 mil. As equipes de saúde da família -hoje 687- deverão chegar a 3.000.
Internações duvidosas
Por mais que se multipliquem, os programas de prevenção dificilmente vão permitir um encolhimento do atual sistema público de assistência médica, que envolve 6.378 hospitais públicos e -na maioria- privados. É a previsão do ministério.
Adib Jatene diz que já reduziu o que pôde do número de internações duvidosas no sistema que garante atendimento em hospital para 9% da população dos Estados.
"A economia que poderíamos fazer, já foi feita: acabamos com os partos em homens, vasectomias em mulheres, grandes queimados que recebiam alta em três dias e pacientes de infecções generalizadas que deixavam o hospital em dois dias", resume o ministro.
Só com o programa de controle à fraude, foi reduzido em 2.000 o número de internações bancadas com dinheiro público.
(MARTA SALOLON e ELZA PIRES)

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