São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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Direto ao alvo

VALÉRIA CÁSSIA DOS SANTOS; ROBERTO NOVELLI FIALHO

VALÉRIA CÁSSIA DOS SANTOS e ROBERTO NOVELLI FIALHO
Com a chegada do inverno, da poluição e do crescente número de automóveis circulando pela cidade, já começam a surgir as discussões sobre o rodízio de carros e a restrição ao tráfego em determinadas regiões de São Paulo.
A proximidade das eleições municipais também traz à tona assuntos relacionados ao sistema viário, cartão de visita preferido das gestões de nossos governantes.
A reabertura do Minhocão à noite, domingos e feriados vem sendo muito discutida, mas pouco ajudará na resolução do caos viário da cidade. Mas, em fim de mandato, qualquer iniciativa que renda espaço na mídia é válida.
Além do indiscutível incômodo causado aos moradores vizinhos ao elevado, a medida em nada melhoraria a situação do trânsito nos horários de pico.
Outra proposta que também vem sendo discutida é a da construção de estacionamentos subterrâneos. Não é preciso lembrar quantas vezes citamos o fato de as soluções viárias terem preferência no planejamento da cidade.
Será que temos que cavoucar até nossos espaços de lazer para acomodar nossos automóveis? De nada adianta a criação de vagas de estacionamento se os veículos não conseguirem transitar de uma maneira aceitável em nossas ruas.
A frota de carros precisa diminuir. Por que então incentivar seu uso? Se a adoção do rodízio de veículos visa a diminuição dessa frota, é contraditório exigir das pessoas a obediência, enquanto o transporte coletivo não for digno.
Trata-se de medida emergencial, que precisa vir acompanhada de um planejamento global, que reúna conscientização, incentivo ao tráfego de carros com pelo menos três passageiros e transporte coletivo de qualidade. Um planejamento que não se limite a remendar problemas crônicos.
De nada adiantam intervenções que, por não seguirem um plano global, apenas trocam os congestionamentos de lugar.
Desde os tempos do ex-prefeito Prestes Maia existe o plano de anéis viários que afastariam do perímetro urbano o tráfego de carga. Sucessivas administrações realizam tantas obras, mas esse plano nunca se completa.
Embora sem relação direta com o assunto, gostaríamos de citar como uma boa iniciativa o Projeto Cingapura, que vem ajudando a melhorar o problema do déficit habitacional no perímetro urbano.
De certa forma, é também uma solução viária: fixando as famílias perto de seu lugar de trabalho, a obra minimiza seu deslocamento e alivia o transporte coletivo.
A resolução do problema é complexa e deve passar por um longo percurso, mas iniciativas assim apontam direção promissora.
Não podemos cercar nossas praças, para que mendigos não durmam nelas, se não tentarmos evitar que o número de desabrigados aumente. Eles simplesmente irão se alojar em outro lugar, apenas maquiando o problema.
É preciso deixar de varrer a sujeira para debaixo do tapete, transferindo soluções e adotando apenas medidas paliativas. É preciso encarar os problemas de frente e com seriedade, ir direto ao alvo.

Valéria Cássia dos Santos, 26, e Roberto Novelli Fialho, 32, são arquitetos e sócio-diretores da Nave Arquitetura e Serviços S/C Ltda.

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