São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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Um caso de inação

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - No início da tarde de quarta-feira, FHC recebeu em seu gabinete o presidente da Força Sindical, Luiz Antônio de Medeiros, e o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal.
Foi uma conversa ocasional. Medeiros apareceu no Planalto para uma cerimônia de posse de ministro. Passou por FHC. Foi convidado para ir ao gabinete presidencial.
O assunto principal foram os reajustes abaixo da inflação para o salário mínimo e para os aposentados. "Eu e o Serra já fizemos um grande esforço para dar o que foi dado", disse FHC.
"Não adianta. Por onde a gente vai, ainda se ouve a história dos bancos. Tem dinheiro para banqueiro. Mas falta para os aposentados e para o mínimo", disse Medeiros.
A discussão então entrou para o campo da racionalidade. Não tem dinheiro. Não tem mágica. Etc.
Medeiros, cujo interesse político é aumentar o valor das aposentadorias, apresentou seu raciocínio mais recorrente: "Presidente, aposentados dão trabalho. São 15 milhões de pessoas que passam o dia inteiro falando mal do governo. E, para eles, falta pouco. O sr. evitaria grande desgaste se completasse a diferença entre 15% e a inflação. Pense nisso".
Falta R$ 1 bilhão para dar a inflação integral para os aposentados. É uma decisão mais política do que econômica. Descobrir um santo para cobrir outro. Aníbal ficou de checar com José Serra a viabilidade do aumento.
Para não pegar mal para o governo, que teria de recuar, o complemento aos aposentados viria na forma de um abono de 4% ou 5%, em junho.
Aníbal sugeriu, para reduzir um pouco o gasto, que o abono fosse dado apenas para aposentados que ganhassem até três salários mínimos.
Todos saíram dali certos de que a idéia prosperaria. Só que, aparentemente, nada foi feito.
É o típico caso de problema anunciado. FHC concorda. Mas não age. É marca do governo. Prefere ter o problema em vez de evitá-lo a tempo.

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