São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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Famílias preparam dossiê sobre Lamarca

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Provar que o capitão Carlos Lamarca foi morto quando já estava sob a guarda do Exército é a próxima meta da Comissão dos Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos.
A comissão dos familiares preparou um dossiê, com base nos laudos cadavérico e pericial e no testemunho do frei Yves do Amaral Lesbaupin, contestando a versão oficial para a morte do guerrilheiro Carlos Marighella.
A intenção da comissão é preparar um dossiê também sobre a morte de Lamarca, ocorrida em 17 de setembro de 1971 no interior da Bahia, e entregá-lo à Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos.
A missão, no entanto, será mais difícil. A Comissão dos Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos ainda não conseguiu localizar o laudo cadavérico de Lamarca.
No caso de Marighella, o laudo cadavérico foi peça importante para a preparação do dossiê.
Por meio de sua análise, o médico legista Nélson Massini afirma que Marighella não poderia ter o tipo de ferimentos que teve caso estivesse mesmo dentro de um carro -o que diz a versão oficial.
Outra dificuldade no caso de Lamarca: há poucas fotos com qualidade suficiente para servirem de objeto de análise.
No caso de Marighella, 17 fotografias que estavam nos arquivos do Dops/SP (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) foram utilizadas no dossiê. Uma das fotos foi usada para mostrar que Marighella teria recebido um tiro no tórax à queima-roupa
Os casos de Carlos Lamarca e de Carlos Marighella, dois líderes importantes da guerrilha contra o regime militar, são considerados os de mais difícil avaliação na Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos.
Há resistências nas Forças Armadas em considerar a culpa do Estado nas duas mortes.
Em entrevista publicada pela Folha no início de abril, o general-de-brigada Oswaldo Pereira Gomes, representante das Forças Armadas na comissão, disse considerar que as duas famílias não têm direito à indenização prevista na lei 9.140.
Pela lei, têm direito à indenização parentes de presos que estavam sob a guarda do Estado. Na avaliação do general, este não era o caso dos dois líderes guerrilheiros.
No pedido de indenização feito pela família de Lamarca, o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh anexou cópia de relatório da 6ª Região Militar, da Bahia, no qual consta que o ex-capitão foi surpreendido e morreu sem reagir.
Amanhã a Comissão Especial receberá o dossiê sobre a morte de Marighella.

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