São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 1996
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Lei Áurea

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Ganhou elogio da Anistia Internacional, o que é selo de garantia.
Mas também ganhou aviso da mesma Anistia, segundo o SBT: sem agenda de implantação, o plano de direitos humanos não passa de uma lista de intenções.
Na operação de divulgação, o plano indicava mesmo ter sido feito antes para parecer do que para acontecer.
Assim, no exato momento do anúncio no Brasil, o papa recebia a sua cópia no Vaticano. Afinal, o plano é uma resposta, antes de mais nada, à Igreja Católica.
É uma resposta, mas não é ação. "É tudo projeto que depende da aprovação do Congresso", registrou o próprio Jornal Nacional.
Para as decisões maiores, como a federalização dos crimes contra os direitos humanos, vai ser preciso contar com a boa vontade dos parlamentares.
FHC precisou "pedir o apoio do Congresso", segundo a CBN. E o Congresso acaba de negar apoio para outra boa intenção do gênero -a Justiça Comum para os crimes comuns de militares.
Na operação de divulgação, não faltou teatro, para alimentar, por exemplo, a manchete da Globo:
- O governo lança o plano nacional dos direitos humanos. E paga a primeira indenização à família de um desaparecido político.
A CBN, porém, avisou logo que "muita gente compartilha da crítica de que o presidente estaria fazendo teatro, quando ele dá uma contribuição, vamos dizer, simbólica a uma única família".
Pior, em teatroi, foi a escolha do 13 de maio. Foi a manchete da Voz do Brasil:
- Depois de 108 anos da assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel, o presidente Fernando Henrique Cardoso lançou o Programa Nacional de Direitos Humanos.
Alguém perdeu a conta do ridículo, na gigantesca operação de divulgação.

E-mail nelsonsa@folha.com.br

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