São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 1996
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Estudo absolve fumo passivo de câncer

DO "INDEPENDENT"

Morar com alguém que fuma ou trabalhar em locais onde é permitido fumar pode não aumentar o risco de câncer nos pulmões.
Essa é a conclusão de um grupo de pesquisadores que divulgaram seus resultados após terem revisto todos os estudos já publicados sobre o chamado fumo passivo.
A conclusão contradiz todos os estudos anteriores e foi questionada por entidades antifumo, que classificaram o trabalho como "constrangedor", por ter recebido financiamento de empresas fabricantes de cigarro.
Em 1992, por exemplo, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA classificou o fumo passivo como um carcinógeno da classe A. Carcinógenos são substâncias ou produtos que provocam ou estimulam o desenvolvimento de tumores malignos num organismo.
A agência estimou que cerca de 3.000 pessoas morrem ao ano devido ao fumo passivo. Depois disso, muitos bares e restaurantes proibiram o fumo.
Insignificante
O Grupo de Trabalho Europeu em Fumo Ambiental e Câncer nos Pulmões, do Reino Unido, analisou todos os 48 estudos epidemiológicos sobre fumo passivo e câncer e avaliou a exposição a ele.
Entretanto os pesquisadores não procuraram relações entre o fumo passivo e doenças como bronquite e enfisema pulmonar, que pode causar a destruição do pulmão.
Eles concluíram que o risco relativo de pessoas que vivem com um fumante desenvolverem câncer pulmonar foi "estatisticamente insignificante".
Segundo Jeffrey Idle, presidente do grupo europeu, estudos que envolviam casais -a maioria relativos a mulheres não-fumantes que viviam com homens fumantes- apontaram um risco relativo equivalente a 1,01.
Um risco relativo igual a um significa um aumento nulo no risco de desenvolver câncer.
Fumo permitido
Os estudos envolvendo locais onde o fumo é permitido mostraram um risco relativo de 1,04.
"Os riscos relativos de 1,01 e 1,04 são cientificamente inexpressivos", afirmou Idle.
O estudo foi supervisionado por três companhias de cigarro, Philip Morris Europe SA, British-American Tobacco Limited e Rothmans International. Segundo Idle, não houve interferência na conclusão.
"O julgamento do Grupo de Trabalho é que o fumo ambiental passivo não é um carcinógeno primário para os pulmões", disse Idle, que é fumante.
Mas, para Richard Peto, professor de estatística médica do Fundo Imperial para Pesquisas do Câncer (Reino Unido), "o cigarro é tão potencialmente responsável pelo câncer humano, que não podemos afirmar que o fumo passivo seja menos prejudicial".
Segundo um porta-voz da Ação sobre o Fumo e a Saúde, o estudo é "estarrecedor". "O estudo é financiado pela indústria do tabaco e não nos surpreende que tenham chegado a esses resultados."

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