São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 1996
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Réus confirmam participação em chacina

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Os depoimentos judiciais de Nelson Cunha e Marcos Aurélio Alcântara melhoraram mais ainda a situação dos três réus da chacina da Candelária presos desde o fim de julho de 1993.
Cunha e Alcântara confessaram ontem ao juiz José Geraldo Antônio, do 2º Tribunal do Júri do Rio, que participaram da matança de oito menores de rua na madrugada de 23 de julho de 93, junto à igreja da Candelária (centro do Rio).
Em nenhum momento de seus depoimentos os dois réus confessos acusaram o tenente Marcelo Ferreira Cortes, o soldado Cláudio Luiz Andrade dos Santos e o serralheiro Jurandir Gomes de França.
Cortes, Santos e França estão presos há quase três anos após serem apontados por sobreviventes como integrantes da quadrilha que praticou a chacina.
O juiz do 2º Tribunal decidiria ontem à noite sobre o adiamento do julgamento dos réus, marcado para o próximo dia 27. Decidiria também sobre o pedido de libertação dos três acusados.
Os depoimentos de Cunha e Alcântara confirmaram as versões que eles apresentaram ao delegado Jorge Serra Pereira, da DDV (Divisão de Defesa da Vida) da Polícia Civil, e aos promotores José Piñeiro Filho e Maurício Assayag.
Cunha afirmou ter confessado sua participação na chacina por remorso. "Tive muita angústia no coração ao ver inocentes pagando por meu erro. Comecei a beber muito. Tive até seis amantes, me separei", disse o ex-PM, que chorou ao fim do depoimento.
O soldado da Polícia Militar Alcântara também falou de seu suposto arrependimento. "Já não estava mais conseguindo conviver com a culpa. Havia pessoas que estavam pagando por isso. Há muito tempo não conseguia dormir. Hoje, apesar de preso, me sinto bem mais livre", disse Alcântara.
Ao terminar seu depoimento, Alcântara chorou convulsivamente ao falar sobre seu filho. "Sei que errei. Tenho que ser punido. Só queria dizer a meu filho que assumi meu erro", afirmou.
Tanto Cunha quanto Alcântara puseram a maior parte da culpa em Maurício da Conceição Filho, ex-policial militar assassinado há dois anos. Conceição Filho, conhecido como Sexta-Feira 13, liderou os chacinadores, afirmaram os depoentes.
Cunha disse que atirou sem querer em Wágner dos Santos. Alcântara afirmou não se lembrar se atirou contra algum menino de rua. "Deu um branco", disse.
Para o promotor Piñeiro, as afirmações são tentativas de incriminar uma pessoa que já morreu.

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