São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 1996
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Grandeza de Hitchcock está em 'Cortina Rasgada'

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

"Cortina Rasgada" (Globo, 2h10) é, com certeza, o filme mais esnobado de Hitchcock. Não deixa de ser um mistério.
Sua proposição é atrevida, já que num quadro de guerra fria os EUA infiltram um espião na Alemanha Oriental. O espião (Paul Newman) também é razoavelmente original, já que é um cientista que se faz passar por desertor, para melhor desvendar uns tantos segredos produzidos pelo colega alemão.
Com isso, inverte-se a tradicional fórmula, segundo a qual só o inimigo (comunista, nazista) pode ser espião.
Mas o filme tem alguns momentos de originalidade lancinante. Que tal uma estrela do balé capaz de identificar o cientista em plena dança (e isso apenas porque ele, ao chegar ao país, chamou toda a atenção da imprensa para si)?
Que tal o assassinato e a surpreendente ocultação do corpo de um guarda-costas, que se segue?
Que tal, por fim, a fuga para o Ocidente, num ônibus? Se não servisse para outra coisa, essa sequência bastaria para demonstrar a inanição do festejado "Velocidade Máxima".
"Cortina Rasgada" pode ter suas fraquezas. Julie Andrews, por exemplo, é uma mocinha um tanto limitada, às vezes faz lembrar uma noviça rebelde perdida no mundo da espionagem.
Paul Newman parece contrafeito o tempo todo (o que não costumava ocorrer com heróis hitchcockianos), o que não incomoda.
A atual inflação de imagens leva à acomodação, à aceitação de produtos em que o espetáculo é fim em si. Há que se estabelecer a distância entre eles e o espetáculo que é meio de elaboração de idéias. A indiferenciação é a morte.(IA)

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