São Paulo, quinta-feira, 16 de maio de 1996
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Médicos-residentes param no HC

MALU GASPAR
DA REPORTAGEM LOCAL

Os 784 médicos-residentes do Hospital das Clínicas entraram em greve ontem, prejudicando atendimento em quase todos os 23 ambulatórios do HC.
Os residentes reivindicam do HC o pagamento de cerca de 20% da bolsa determinada pelo Conselho Nacional de Residência Médica, órgão ligado ao MEC e responsável pelo credenciamento dos programas de residência.
Reunidos em assembléia ontem pela manhã, eles organizaram uma escala mínima de comparecimento aos serviços considerados de emergência: pronto-socorro, UTI, semi-intensivo e alguns ambulatórios, como o de neurologia.
Nos outros setores do hospital, a adesão à greve foi maciça. Os 1.276 médicos tentaram substituí-los, mas não conseguiram.
O programa de residência é um período de especialização feito por médicos recém-formados. Para participar, é preciso prestar concurso. O valor total da bolsa é de R$ 1.098,00.
Desde fevereiro, os residentes do HC recebem apenas 80% da bolsa -pagamento que cabe ao governo estadual, de R$ 878,00.
Ambulatórios
Nos ambulatórios, que realizam em média 6.000 atendimentos por dia, vários serviços foram suspensos. O de otorrinolaringologia, onde trabalham 22 residentes, cancelou as 150 consultas marcadas para ontem. Na endocrinologia, cerca de 35 pacientes foram dispensados por causa da greve.
Na clínica médica, onde há especialidades como gastroenterologia e nefrologia, cerca de 50 pacientes tiveram consultas remarcadas por falta de médicos. Pela manhã, nenhum médico apareceu. Apenas à tarde um médico do pronto-socorro foi transferido para lá.
"Esperei seis horas para saber que não seria atendido", disse o trabalhador em construção Constantino Silva, 60.
Ele chegou antes das 6h ao hospital para uma endoscopia e só soube que não seria atendido às 13h30. Das 18 pequenas cirurgias marcadas para ontem, apenas quatro foram realizadas.
Segundo a responsável pelos programas de residência na Secretaria Estadual da Saúde, Irene Abramovich, um decreto do governo estadual baixado em outubro de 1995 determina que as instituições mantenedoras dos hospitais paguem os 20% que completam a bolsa.
Os programas de residência que não recebem os 20% correm o risco de serem descredenciados pelo MEC, o que invalida a especialização. Para o superintendente do HC, Alberto Kanamuro, "tudo o que podia ser feito para evitar a greve foi feito".
Kanamuro assinou um documento aprovando o remanejamento de verbas para o pagamento dos residentes, que ainda precisa receber a assinatura do governador e dos secretários da Saúde, da Fazenda e do Planejamento.
Os residentes dizem que só voltam ao trabalho quando a tramitação do documento estiver concluída.
Eles farão nova assembléia hoje, às 9h, e em seguida vão em passeata à Secretaria da Saúde.

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