São Paulo, quinta-feira, 16 de maio de 1996
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EUA divulgam sanções contra China

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O governo dos EUA divulgou ontem lista de produtos chineses no valor de US$ 3 bilhões que poderão receber tarifas punitivas de importação de pelo menos 100% a partir de 17 de junho próximo.
Menos de uma hora depois do anúncio em Washington, a China respondeu com sua própria relação de produtos importados dos EUA a serem sobretaxados caso a sanção americana seja aplicada.
Embora os dois países já tenham estado à beira de uma guerra comercial em fevereiro do ano passado, as chances de um acordo parecem menores desta vez.
O motivo da desavença é o mesmo de 1995: a pirataria contra produtos intelectuais norte-americanos na China, que, segundo os EUA, lhe provocou em 1995 prejuízos de US$ 2,3 bilhões.
No ano passado, chegou-se a um acordo na madrugada do dia 23 de fevereiro, quando sanções dos EUA no valor de US$ 1 bilhão entrariam em vigor.
O acordo envolveu a assinatura de documento no qual o governo chinês se comprometeu a reprimir a pirataria intelectual no seu país.
Ontem, em Washington, a responsável pelo comércio exterior dos EUA, Charlene Barshefsky, disse que a China não cumpriu o que prometera em 1995.
Barshefsky, que ficou famosa por ter chegado ao entendimento com a China no ano passado, disse ter dado aos chineses "todas as oportunidades razoáveis".
Nos próximos 30 dias, o governo dos EUA receberá argumentos de importadores e consumidores sobre a lista anunciada ontem e chegará a uma relação final, no valor de US$ 2,3 bilhões.
Nesse período, ocorrerão também negociações com o governo da China para se tentar evitar a aplicação das sanções.
O principal item da relação são roupas de seda, no valor de US$ 750 milhões. É o único produto que não se fabrica nos EUA. Cerca de 70% de todas as confecções de seda consumidas no país são importadas da China.
Roupas de algodão e de tecidos sintéticos e produtos eletrônicos e esportivos são outros artigos importantes da lista.
As relações entre EUA e China têm sido difíceis durante o governo Clinton. A venda de tecnologia nuclear para o Paquistão, denúncias de desrespeito de direitos humanos, a questão de Taiwan, a continuidade de testes nucleares e o problema da pirataria são as reclamações norte-americanas.
Os chineses se queixam do que consideram ambiguidade dos EUA em relação a Taiwan e de ameaças contra sua soberania nas disputas comerciais.
Apesar das tensões, o governo Clinton parece disposto a manter a separação entre comércio e direitos humanos em relação à China, estabelecida no início da administração, sob protestos da oposição.
No próximo dia 4, o governo terá de decidir se renova a condição de "nação mais favorecida" da China, que lhe garante impostos de importação nos EUA mais baixos do que os de outros países.
Clinton defende manter o status, que precisa de aprovação do Congresso, sob controle da oposição.
Esse é um dos motivos por que se acredita que um acordo seja difícil: Clinton precisa parecer mais duro com a China agora do que antes para ter mais chances de manter a condição chinesa de "nação mais favorecida".

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