São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cigna desiste do seguro-saúde

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A seguradora Cigna, uma das maiores companhias norte-americanas de seguro-saúde, está abandonando esse ramo no Brasil.
Desde novembro, a empresa deixou de renovar as apólices de seguro-saúde de seus clientes, cerca de 120 empresas com 20 mil funcionários. A Cigna atuava nesse mercado há mais de dez anos.
"O seguro-saúde não apresentava o retorno esperado. A sinistralidade é muito elevada, não tínhamos como acompanhar as grandes seguradoras nesse ramo", afirmou Roberto Santos, vice-presidente da seguradora.
Ele explicou que a sinistralidade da carteira atingia 85%, isto é, de cada R$ 100,00 pagos pelos segurados, R$ 85,00 eram gastos com os pagamentos dos médicos, hospitais e laboratórios utilizados pelos clientes. No exterior, a sinistralidade aceitável é de 75%.
Água fria
A saída da Cigna do seguro-saúde caiu como um balde de água fria nas intenções do governo de abrir o setor para novos concorrentes estrangeiros -e, assim, forçar as empresas de planos de saúde a baixarem seus preços.
Coincidência ou não, a abertura foi anunciada na semana em que representantes de diversas seguradoras internacionais visitam o país, junto com o sub-secretário para Assuntos Internacionais de Comércio e Finanças dos Estados Unidos, Jude Kearney.
"O capital externo só virá se for para dar lucro. Não vejo motivos para investidores externos colocarem dinheiro num negócio que está sofrendo intervenção governamental", diz Santos.
A Cigna também está deixando de atuar no seguro de automóveis.
A idéia da empresa é concentrar-se nas apólices de transportes, responsabilidade civil, vida e acidentes pessoais.
"A tendência do setor é a especialização, vamos fazer no Brasil o que sabemos fazer bem nos Estados Unidos", afirma o vice-presidente da Cigna.
No país, a empresa é relativamente pequena: espera faturar prêmios da ordem de R$ 50 milhões em 1996. Nos Estados Unidos e em outros 80 países, arrecadou prêmios da ordem de U$$ 22 bilhões em 1994 (o balanço de 1995 não foi publicado ainda).
A Cigna é um caso perdido para o governo nessa seara, mas o quadro poderia ser revertido se fossem adotados mecanismos de redução de custos operacionais para as seguradoras, avalia o consultor Humberto Torloni Filho, da corretora de seguros norte-americana Johnson & Higgins.
"As seguradoras poderiam ser autorizadas, por exemplo, a investir parte de suas reservas técnicas em hospitais" sugere Torloni.
No ano passado, as companhias tinham R$ 1,6 bilhão aplicados em imóveis.

Texto Anterior: Trasmontano prepara alta
Próximo Texto: Planos culpam honorários por reajustes
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.