São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 1996
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Khaled prova que é 'rei do rai' em SP

CELSO FIORAVANTE
DA REDAÇÃO

Depois de se apresentar em Salvador e Rio de Janeiro, Khaled mostra amanhã em São Paulo por que conquistou o título de "o rei do rai".
O epíteto deste cantor franco-argelino poderia ser ainda "o mito" ou "o símbolo", já que foi Khaled o responsável pela repercussão mundial de um ritmo fortemente enraizado em uma cultura local. Mas o músico colocou rock, funk e reggae em seu rai e fez o mundo dançar, como fará amanhã, no Blen Blen Club.
Em entrevista exclusiva à Folha, Khaled manifestou seu interesse em voltar, ainda este ano, ao Brasil. Disse também que vai gravar um dueto com a cantora islandesa Bjork para o próximo disco, que ele quer que se chame "Voyage". Revelou ainda que estréia em setembro como ator. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
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Folha - Por que você não canta os problemas políticos e sociais de seu país?
Khaled - Sei que a Argélia tem muitos problemas, mas o que eu canto é isso. Quando eu falo de amor e de liberdade, me sinto um cantor engajado.
Folha - E você acha que a sua música ajuda as pessoas?
Khaled - Eu espero que sim. Com tudo isso que se passa na Argélia, essas mortes, as pessoas estão tristes. Mas todos ouvem rai, e isso os reconforta, faz com que esqueçam um pouco o que está acontecendo.
Folha - E por que você não canta na Argélia há dez anos?
Khaled - Sinto falta da Argélia. É o meu país, penso muito nele, mas também tenho medo.
Folha - O que você achou do assassinato de Cheb Hasni por integralistas em 1994?
Khaled - Foi uma tragédia. Quando se mata alguém que canta o amor, que não está fazendo política, se vai mal. Quando você mata a cultura, você mata um país, mata um povo que fala. Eu acho que um país sem cultura não é um país. Por isso eu canto o amor e a liberdade, sobretudo a liberdade de expressão.
Eu nunca fui ameaçado, mas tenho medo de fazer um concerto lá. Tenho medo que um fanático solte uma bomba. Sei que, como artista, terei proteção, mas também penso nos espectadores que vêm me ver. Não quero ter mortos na minha consciência.
Mas é preciso ter sempre esperança. Saber que estamos em uma fase horrível, com fome, bombas caem no Líbano... Não podemos mudar isso, mas os artistas têm a obrigação de trazer esperança.
Folha - Você gravou a trilha sonora de "Um Dois Três Sol", de Bertrand Blier. Pretende repetir a experiência?
Khaled - Sim. Terminei de fazer um filme agora, como ator, e também fiz a trilha. Ele se chama "100% Arabica", como o café (risos). O diretor é Mahmoud Zamouri, um argelino que já fez muitas comédias. Este filme é sobre imigrantes da periferia de Paris que não querem se envolver em drogas e criminalidade e formam um grupo para sair da merda. O filme estréia em setembro.

Show: Khaled
Onde: Blen Blen Club (r. Cardeal Arcoverde, 2.970, tels. 815-4999 e 815-4145, Pinheiros
Quando: amanhã, às 23h
Quanto: R$ 20,00

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