São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 1996
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"Persona" explora o genial de Bergman

MARCELO REZENDE
DA REDAÇÃO

Essa mulher termina, pela teimosia do silêncio, em uma casa de repouso, sendo cuidada por uma enfermeira que a assiste com admiração, desejosa de sua vida, de sua família e de sua fama.
Realizado em meados dos anos 60, "Persona" (que no Brasil foi amaldiçoado com o ridículo subtítulo de "Quando Duas Mulheres Pecam") é a grande obra de confronto de seu diretor. Com o filme, seu universo de angústias metafísicas ganha a violência física, brutal, quase apavorante, na estranha relação entre a atriz e sua enfermeira.
Logo no início somos avisados de tudo o que virá. Pequenos flashes em que várias imagens da história exemplificam atos de selvageria da humanidade. Da crucificação de cristo à Segunda Guerra.
Bergman reduz esses fatos, que de maneira ingênua são tidos como uma evolução, às disputas do dia-a-dia, onde o papel de uma é se manter calada; e, o de outra, o desespero da comunicação.
Há então tapas, gritos histéricos, a traição da confiança e uma dolorosa disputa de classes. "Persona" escancara algo que todos os psicanalistas guardam em segredo em suas salas. Os casos de amor incestuosos, o ódio que a mãe nutre por sua filha ou atração por alguém do mesmo sexo vivida com culpa.
Mas Bergman, se realmente fala de algo mais que o próprio silêncio, não faz do processo de vampirismo entre essas duas pessoas seu grande tema. Em nenhum momento o espectador vive a ilusão de que está em plena terapia (o ponto em que todos os epígonos do diretor sempre fracassam), mas sim diante de um filme. Um dos raros em que o adjetivo genial é aceitável.

Filme: Persona - Quando Duas Mulheres Pecam (nova cópia)
Produção: Suécia, 1965, 84 min.
Direção: Ingmar Bergman
Com: Bibi Andersson, Liv Ullmann, Margareta Krook
Onde: Espaço Unibanco de Cinema
Quando: reestréia hoje

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