São Paulo, sábado, 18 de maio de 1996
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Raça Negra chega ao topo tocando pagode do asfalto

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de ex-caminhoneiros, ex-vendedores e operários da zona leste de São Paulo festeja hoje à noite, no palco do Ginásio do Ibirapuera, uma façanha digna de Madonna ou Michael Jackson: a venda de 12 milhões de discos.
É a consagração do pagode-com-sax do Raça Negra. Ou do sambanejo, como já foram rotulados. Nada disso. É o fenômeno do "swing com dor-de-cotovelo", como prefere a banda.
Um trilha mais voltada para o solitário de boteco, segundo o grupo, do que para a alegre selvageria de uma feijoada entre amigos movida a batuque.
"Nunca fizemos pagode nem samba puro, nossa fonte sempre foi Tim Maia, Jorge Ben e Bebeto", diz o líder e vocalista Luiz Carlos, 38. "Isso é swing".
Com oito discos, o grupo avalia que chegou à montanha de 12 milhões graças à repetição de versos radicalmente simples, que grudam e não descolam mais do ouvido.
Eles cantam coisas como um amor que chega, outro que vai, uma dúvida no mundo da traição e até a vontade de transar pela segunda vez com a mesma "mina".
"Meu amor, estou querendo outra vez", clama a música "Tudo pode acontecer", faixa do disco "Raça Negra", de 1994.
Regravações
Regravações, com jeitão de pagode, de hits já badalados por terceiros também movimentam a caixa registradora da banda. A fórmula do laboratório do Raça Negra tem sido aplicada em sucessos de Tim Maia e Lulu Santos.
Além de regravações, existe a aposta em compositores que já acertaram a mão em sucessos do passado, como Peninha, aquele de "Sonhos" ("Tudo era apenas uma brincadeira e foi crescendo...)
No novo disco, o Raça Negra canta "Outra onda", um Peninha com sotaque de Jovem Guarda. A invasão das rádios, sobretudo as mais populares, tem sido o caminho do grupo, que nega ser favorecido por qualquer espécie de "jabá" -esquema montado por gravadoras para forjar sucessos.
Segundo Luiz Carlos, o Raça Negra sequer elege a chamada "música de trabalho", também conhecida como carro-chefe, para orientar a escolha dos programadores.
Além dos ingredientes do grupo, um fator novo tem ajudado nas vendas: o mercado brasileiro de discos foi o que mais cresceu no ano passado em todo o mundo.
A explicação dos analistas econômicos para o crescimento seria a estabilização da economia produzida pelo Plano Real.
O boletim com o ranking das músicas mais tocadas em 14 emissoras de São Paulo, na última terça-feira, dava uma idéia do prestígio radiofônico do grupo.
A faixa "Sozinho", do disco lançado este mês, havia sido repetida 47 vezes entre as 7h e 19h. Músicas mais tocadas de Roberto Carlos, por exemplo, apareciam duas vezes na lista. Fãs do "rei" têm um argumento: Raça Negra acabou de lançar o disco e Roberto Carlos pôs o CD na praça em dezembro.
A performance da banda de pagode é comparável a Madonna em rádios dos EUA ou à força dos grupos como Blur ou Oasis, que dominam o pop.

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