São Paulo, sábado, 18 de maio de 1996 |
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Simon Schama exuma a paisagem Historiador estuda a natureza MARCELO REZENDE
O livro, lançado no Brasil pela Companhia das Letras, se tornou no ano passado, na Europa e EUA, o grande best-seller entre as obras originárias do meio acadêmico, repetindo a façanha de "Cidadãos", seu mais famoso trabalho. O livro mostrava ao urbano leitor comum que os mais antigos mitos sobre as árvores ou rios ainda estão presentes na paisagem das grandes cidades. Schama prova que a expressão "selva de pedra", ao menos em certa medida, é mais do que um mero clichê. Com mais de 600 páginas, "Paisagem e Memória" se divide em quatro grandes capítulos: Mata, água, rocha, e o último, que une esses três elementos a fim de demonstrar a construção mental da arcádia, o reino ideal do prazer pagão: "Sempre ouve dois tipos de arcádia. Tumultuada e tranquila; sombria e luminosa; um lugar de ócio bucólico e um lugar de pânico primitivo". Essas idealizações sobre a natureza, e como foram interpretadas na pintura, literatura ou nas ações do homem -a edição original possui 300 ilustrações-, servem para Schama comprovar sua grande tese. Não há, e em toda a história jamais houve, um momento de comunhão -vivida em inocência- da humanidade e o espaço. A maneira que vemos ou sentimos a natureza é fruto direto de nossa cultura. Assim, a "floresta catedral", "a paz do campo" ou "os prazeres do ar marinho" são apenas o resultado da imaginação. Idéias que foram concebidas em um passado imemorial e que se reflete nos radicais movimentos ecológicos, ou na simples atitude de ter plantas em um vaso. A história do Ocidente, que é, enfim, o pensamento da Europa. Schama conta essa longa história como se realizasse literatura. Constrói seu livro, eles nos explica logo na introdução, não se restringindo aos arquivos ou bibliotecas. "Paisagem e Memória" (que se tornou também uma série documental na TV inglesa) é o resultado das longas caminhadas de seu autor pelos cenários europeus. Os lugares por onde caminharam também seus pais e avós. "Depois de 1945, a Europa martirizada podia não ter mais lugar para os calvários artificiais. Na América, contudo, os católicos italianos, que, absolutamente, não diferiam dos primeiros peregrinos do monte de Verna, conceberam uma 'Nova Jerusalém', destinada a deter a marcha do humanismo, do secularismo e, claro está, do comunismo." Filho de pais que imigraram para os EUA depois das perseguições na Segunda Guerra, Simon Schama faz de "Paisagem e Memória" um meio para recuperar as passagens de seu próprio passado. E também como o uso que alguns homens fizeram dos antigos mitos sobre a natureza terminaram por determinar seu presente. E, também, de nós todos. Livro: Paisagem e Memória Autor: Simon Schama Quanto: não definido Texto Anterior: Rock; "Transpotting"; Lucas; "Evita" Próximo Texto: Show reúne Rita Lee e Gil no palco Índice |
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