São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
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Mercosul descobre mar potável sob a terra

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os geólogos já sabiam há décadas, mas os empresários e políticos estão descobrindo agora: o maior reservatório de água doce do mundo está escondido debaixo do Mercosul.
Não é exagero: o manancial subterrâneo conhecido como Botucatu estende-se por 1,6 milhão de km². É maior que Inglaterra, França e Espanha juntas.
Dois terços desse mar subterrâneo ficam em território brasileiro, espalhados por seis Estados. O outro terço está debaixo da Argentina, do Paraguai e do Uruguai. Por um capricho sem explicação, nenhuma capital fica sobre o lençol.
É tanta água que o manancial foi batizado de "aquífero gigante do Mercosul" e será tema de um seminário internacional nesta semana em Curitiba (PR). O objetivo é revelar aos dirigentes governamentais e homens de negócios "as vantagens" dessa água.
Um único poço de mil metros é capaz de fazer jorrar água para abastecer cem mil habitantes.
O volume total estimado do manancial chega a 50 bilhões de m³. Se toda essa água fosse extraída, abasteceria 150 milhões de pessoas -mais ou menos a população atual do Brasil- por 2.500 anos.
Só a reserva explorável anualmente -que pode ser extraída sem prejuízo para o lençol- está avaliada em 160 milhões de m³.
"É o equivalente à vazão média do rio Paraná em território argentino", diz Gerôncio Rocha, geólogo do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo). É água suficiente para satisfazer 30 vezes a necessidade de 15 milhões de pessoas que vivem sobre o manancial.
O tamanho desse "mar" também tem seus riscos. Umas das preocupações do seminário promovido pela Universidade Federal do Paraná é mostrar que o manancial precisa ser regulado e protegido pelo Mercosul.
Como buracos
"Há poços jorrando e desperdiçando uma água que tem milhares de anos", diz José Luiz Albuquerque Filho, geólogo especialista em águas subterrâneas do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
"Os poços continuam sendo abertos como se fossem buracos, sem critérios nem fiscalização", diz Aldo da Cunha Rebouças, do Instituto de Estudos Avançados da USP e um dos participantes do seminário de Curitiba.
Segundo ele, um projeto de lei sobre águas subterrâneas está há dez anos enroscado no Congresso. "Não há legislação nem órgãos que controlem a exploração."
Poços desativados são abandonados sem serem fechados. Isso aumenta o risco de contaminação por acidente ou por sabotagem.

LEIA MAIS sobre o lençol subterrâneo na pág. 7

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