São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
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Homem consome água dos dinossauros

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os poços de grande profundidade do aquífero Botucatu estão oferecendo ao homem a incrível experiência de compartilhar da mesma água consumida pelos dinossauros. Boa parte dos moradores de Presidente Prudente (558 km a oeste de SP), por exemplo, está bebendo dessa água.
A cidade é em parte abastecida por um poço de grande profundidade. À medida em que as sondas penetram até 1.500 metros em busca do manancial subterrâneo, pelo menos 200 milhões de anos são percorridos. "É uma viagem por um museu que nos revela a formação da Terra", diz o professor e geólogo Aldo Rebouças.
A camada de areia onde se concentra a água do manancial Botucatu começou a ser formada pelo menos 100 milhões de anos antes do surgimento dos dinossauros.
Ao longo dos 65 milhões de anos dos períodos triásico e jurássico -entre 200 milhões e 135 milhões de anos-, a região que hoje corresponde ao aquífero era um deserto gigante, repleto de dunas.
Segundo o geólogo Gerôncio Rocha, do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), as dunas foram cobertas no período seguinte por grandes derrames de lava que escapavam pelas fendas ao longo da calha do rio Paraná.
Períodos de grande umidade recobriram de vegetação essa camada de rocha e permitiram o surgimento de animais de grande porte, como os dinossauros. Esse período, segundo os geólogos, corresponde à era que vai de 135 milhões de anos a 60 milhões.
O manancial do Botucatu começou a armazenar água desde que seu deserto foi coberto pela camada de lavas. "Ele está sendo recarregado há mais de 200 milhões de anos", diz Rebouças.
Esse recarregamento -além da água que penetra por fendas nas rochas- se dá através das áreas onde o aquífero está a descoberto. Esse termo indica as regiões onde o Botucatu fica próximo da superfície.
Águas das chuvas e de rios da região penetram nas bordas do aquífero e vão caminhando lentamente em direção ao oeste do Estado.
A geóloga Rosa Beatriz Gouveia da Silva datou a água retirada de poços de Presidente Prudente e constatou que ela estava armazenada ali há 30 mil anos.
Considerando que essa água penetrou no solo na região de Águas de São Pedro -um dos pontos onde o aquífero aflora- conclui-se que "ela levou 30 mil anos para percorrer cerca de 280 km", diz José Luiz Albuquerque Filho, do IPT.
Rosa Beatriz trabalhava para o Daee e morreu em 1986 num atentado do Sendero Luminoso, quando viajava pelo Peru.
As regiões de maior risco dos aquíferos profundos são as suas bordas ou áreas de afloramento. Dois terços dessas áreas ficam no Brasil. Agrotóxicos, lixões e esgotos industriais podem contaminar a água de superfície que penetrará nas áreas de afloramento.
(AB)

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