São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
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Dividendo já é alternativa de renda

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Comprar ações e viver de dividendos sempre foi uma ilusão no Brasil. Neste ano, com a queda gradual dos juros e a estabilidade da inflação, esse sonho ficou um pouco menos distante da realidade.
Uma bolada estimada em pelo menos R$ 2,5 bilhões deve ir para o bolso dos investidores no mercado acionário este ano, a título de dividendos (parcela do lucro das empresas distribuída aos acionistas).
Os dividendos deixaram de virar pó entre o fechamento dos balanços das companhias e a efetiva distribuição dos resultados, que geralmente ocorre até cinco meses após o final do ano fiscal.
Em 1994, a inflação de janeiro a maio foi de 489%. Imagine o que aconteceu com os lucros distribuídos por empresas displicentes com os acionistas, como as estatais e a maioria das empresas privadas, que não corrigem os dividendos.
No ano passado, a inflação até maio despencou para 7,2% e, neste ano, deve ficar em torno de 5%. Somente por aí se percebe o quanto valem, hoje, os dividendos.
Como os juros caíram pela metade neste ano, devendo ficar em torno de 15% reais (além da variação cambial), os dividendos passaram a valer muito mais quando comparados com as aplicações de renda fixa, como os CDBs.
Aposentadoria
"A tendência dos dividendos é pesar cada vez mais no retorno dos investimentos em ações", prevê Alcides Amaral, presidente do Private Bank do Citibank no Brasil.
"Ainda não dá para as pessoas montarem uma carteira de ações para colher dividendos na aposentadoria, mas estamos a caminho."
Alguns clientes milionários do Private Bank do Citi já começaram a dar preferência a ações de empresas com uma melhor política de dividendos e, claro, perspectivas de lucros crescentes.
Marcelo Audi, diretor do Banco Patrimônio, associado à Salomon Brothers, também está recomendando ações não só pelo seu eventual ganho de capital (variação no preço da ação), mas também pelos seus possíveis dividendos.
"Ações de estatais, como a Eletrobrás, passaram a pagar mais dividendos, pois a inflação não comeu mais toda a base de cálculo dessa distribuição de resultados."
Este ano, quem tinha Eletrobrás PNB recebeu R$ 17,30 de dividendos por lote de mil ações (veja tabela). Sobre o preço do papel na sexta-feira passada, esses dividendos equivaliam a uma rentabilidade de 6,38% ao ano -nada mal, considerando que antes esses ganhos simplesmente desapareciam.
O Banco Patrimônio estima em 3% ao ano a rentabilidade média das 94 ações mais representativas na Bovespa, considerando-se apenas os dividendos previstos (fora a variação do capital investido).
Essas companhias, avaliadas na última sexta-feira em R$ 137,5 bilhões, devem dar lucros da ordem de R$ 10 bilhões neste ano. Se a previsão se concretizar e 25% desse resultado for transformado em dividendos, como é de praxe no mercado, pelo menos R$ 2,5 bilhões irão para os bolsos dos acionistas -desta vez, sem virar pó, como acontecia no passado.
Estrangeiros
Amaral e Audi acreditam que em dois ou três anos os investidores em ações brasileiras poderão montar carteiras pensando somente em dividendos, como nos países mais desenvolvidos.
É o prazo necessário para as reformas econômicas avançarem, os juros caírem para 6% a 8% ao ano e as empresas voltarem ao mercado de capitais para levantar recursos para novos investimentos.
"O investidor estrangeiro dá muita importância aos dividendos. Como eles têm um papel cada vez mais importante no mercado brasileiro, as empresas vão ter de melhorar suas políticas de distribuição de lucros", diz Samuel Levy, diretor-adjunto do Citibank.

LEIA MAIS sobre ações na pág. 2-7.

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