São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 1996 |
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A mina da Telebrás
CELSO PINTO Quanto vale a Telebrás?No mercado acionário, ela vale hoje US$ 15,5 bilhões, embora seu patrimônio seja de US$ 26 bilhões, ela seja altamente lucrativa, seu mercado tenha um potencial extraordinário e ela opere no setor que mais atrai investidores em todo o mundo. A Telebrás vale metade do que valem empresas similares latino-americanas no mercado acionário, consideradas as proporções de terminais instalados. Por quê? A principal razão são os riscos envolvidos no processo de privatização. Além de envolver uma óbvia questão de poder, a estratégia de privatização pode afetar decisivamente seu valor. Por enquanto, o governo definiu as regras para privatizar a concessão da chamada "Banda B" de telefonia celular. Quanto ao futuro da "Banda A" da telefonia celular, em mãos das estatais, e ao futuro das próprias teles, só há hipóteses. Um dos complicadores da Telebrás é seu controle acionário. O governo federal controla a holding com apenas 23% de seu capital total (52% das ordinárias e 3,7% das preferenciais). A Telebrás, por sua vez, controla 27 teles mais a Embratel com proporções diferenciadas do capital. No caso da Telesp, por exemplo, a maior e mais ambicionada das teles, a Telebrás detém 78,5% do capital total. Na Telemig a participação é de 84%, na Telerj é de 82%, e na Telepar, de 75%. Isso quer dizer que, se o governo privatizar a Telesp, por exemplo, que tem um patrimônio de US$ 8,5 bilhões, receberá 23% de 78%, ou 18% do total, caso venda toda sua participação. O resto vai engodar o caixa da Telebrás. O potencial do mercado é gigantesco. Números de 1994, mencionados em trabalho do Citibank, mostram que em termos de terminais por 100 habitantes, o Brasil, com 8,3, ocupava o posto 43 no ranking mundial, abaixo da média (11,9) e muito aquém de seu porte econômico. O governo projeta um crescimento de 14,8 milhões de terminais em 1995 para 30 milhões de terminais ao final de 98, através de US$ 33 bilhões em investimentos. O maior salto se dará na telefonia celular: de 1,5 milhão de terminais em 95 para 6 milhões em 98. A participação relativa dos celulares saltará de 11,5% do total em 95 para 26% em 98. A telefonia celular, que representava 4,4% do faturamento da Telebrás em 94, passou para 12% no ano passado, quando o número de terminais mais do que dobrou. A área de celulares, como lembra do Citibank, é a que "apresenta maior margem de lucratividade, face aos preços das tarifas, baixo custo de investimento e custo de manutenção". Os celulares atraem por estas razões e porque a área convencional anda devagar, mantendo uma demanda reprimida. Ao vender primeiro a área de celulares, o governo vai maximizar o valor das concessões. A médio prazo, contudo, o sucesso privado acabará afetando o valor das teles. Do ponto de vista estrito do interesse do Tesouro, o que vale mais à pena? O dinheiro das concessões vai direto para o cofre do governo, enquanto, numa venda futura das teles, o que vai direto é 23% do total. O resto, teoricamente, terá que ser dividido com os minoritários. Fernando Xavier Ferreira, presidente da Telebrás, diz que, ainda assim, o governo deve privatizar as teles e cuidar para não desvalorizá-las, nem prejudicar os minoritários. As desconfianças, contudo, existem. Uma vez que o dinheiro das privatizações estiver no caixa da Telebrás, a criatividade brasiliense pode funcionar e destinar o dinheiro, por exemplo, a alguma aplicação compulsória, ou a um fundo de investimentos. É em função deste risco que o mercado aplica um desconto no preço das ações da Telebrás. É por esta razão, também, que a definição sobre o modelo de privatização das telecomunicações vale bilhões. O Citi acha que o governo vai vender blocos de ações das concessionárias reagrupadas, mantendo o controle e abrindo, eventualmente, as empresas a uma gestão compartilhada com operadoras internacionais. Numa segunda etapa, elas seriam privatizadas. Tudo muito devagar. A previsão é que a privatização dos serviços de telecomunicações "não deverá ter início neste governo". Texto Anterior: Fascículo é alterado para incluir Quércia Próximo Texto: Grupo luta por vaga em consórcio Índice |
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