São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 1996
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A Copa estava atrasada em uma temporada

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, antes de falar do jogo propriamente dito, direi que a Record marcou um gol logo de cara.
Convocou, lá da Itália, o José Altafini, o Mazzola, para ajudar na análise do jogo.
Altafini era o nome ideal. Não só porque até hoje é o maior artilheiro da Copa dos Campeões, o mais importante torneio de clubes do Velho e sempre novo Mundo, mas também porque é um ótimo comentarista do fut italiano.
A presença de José Altafini foi mais um ponto na transmissão da Record do jogo entre a piemontesa Juventus e o Ajax de Amsterdã-dã-dã, como cantaria o Chico Buarque.
E, já que falei na transmissão, uma beleza as imagens geradas por uma emissora que, creio, italiana. Barroquismo de câmeras e de captura de detalhes tão pequenos de nós dois que fazem do fut um show imagético de primeira.
A Globo, tão gabola das qualidades da sua programação, ainda está mil anos luz atrás das TVs européias nas imagens de um jogo de futebol.
Bem, vamos ao jogo do estádio Olímpico (curioso nome: as Olimpíadas são gregas e não romanas, certo?), de Roma.
Juve e Ajax não estavam, este ano, com a bala da temporada passada. O time alvinegro, na verdade, vestido do azul real italiano, de Marcelo Lippi, entrou para decidir no intróito.
Antes dos primeiros 15 minutos, o grisalho Ravanelli já estava, como Rivaldo, com a fralda da camisa cobrindo a cara, correndo feito mula sem cabeça, feio cabra-cega, comemorando o primeiro gol do jogo, obtido depois de falhas primárias do goleiro Van der Sar e de Frank De Boer.
A partir daí, com o recuo em demasia do trio meio-campista do time italiano, o Ajax tomou conta do campo, da bola, do jogo e, se bobeasse, tomava conta até da Constituição, do Vaticano e da máfia italiana.
Ô, Ajax, naqueles instantes de muita movimentação, de toques de primeira, de calção e corpo aberto no espaço e de coração de eterno flerte com a arte, adoro ver-te.
Aí, veio a segunda fase. O Kluivert voltou prematuramente ao time, no lugar do espigadão Kanu, que, aliás, não estava jogando bem. Seja por isto, seja porque estava com preparo físico e uma determinação de vencer superiores às do adversário, quem tomou conta do jogo, que ficou mais nervoso e menos técnico, foi o céu azul piemontês.
Em vão, contudo, o voluntarismo, porque ele não impediu que a Juve perdesse a hipótese de vários gols e a partida não se decidiu no período temporal de um jogo normal de fut.
Tampouco, no espaço adicional de tempo concedido para essas nobres ocasiões, a rainha bola decidiu-se com qual dos reinos ficar. Preferiu ir para a mais cruel das decisões, a pena de morte do futebol.
Chegar aos pênaltis já tinha sido uma chance do destino para o técnico Van Gaal. Ele ironizou sua sina, colocou os inexperientes para executar os pênaltis, e deu no que deu: Juve com a coroa na cabeça.

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