São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 1996
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Despachante cobra R$ 600 por passaporte

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Despachantes de São Paulo estão cobrando até R$ 600 para apressar a emissão de passaporte ou a retirada do visto no consulado norte-americano.
Quem precisa de visto para os EUA e passaporte com urgência pode ser cobrado em R$ 1.200.
Os despachantes dizem que a "taxa de urgência" é repassada a funcionários da Polícia Federal ou do Consulado dos EUA, sem que a direção dessas duas instituições saibam (leia texto ao lado).
Atualmente, o passaporte na superintendência de São Paulo da Polícia Federal está demorando 30 dias para sair. Os despachantes garantem a quem paga um "extra" a retirada em 24 horas.
No caso do visto para os EUA, as senhas do consulado garantem um lugar na fila depois de 15 ou 20 dias úteis da entrada do pedido. Os despachantes reduzem o prazo para sete dias nos vistos de turismo e para 24 horas nos de negócios.
Amizade
Quatro agências de despachantes procuradas pela Folha, todas na região central da cidade, pediram "taxas de urgência" para agilizar a emissão de passaporte.
Um despachante da agência Pacto disse que existe um esquema de corrupção junto à PF para liberar o documento mais rápido. Ele pediu de R$ 250 a R$ 300.
Outro despachante da mesma agência ligou em seguida e subiu a "taxa de urgência" para R$ 600. "Com essa dificuldade toda (a falta de material na PF), a pessoa pede o valor que quer", disse.
E emendou: "Não estou nem cobrando honorário, de R$ 80. Estou fazendo a nível de amizade mesmo, a nível de ajuda, para você não perder o embarque".
Contato
A agência de despachos Claus queria cobrar R$ 250. Quando a reportagem da Folha disse que outro despachante cobrava R$ 600, a funcionária afirmou: "Eu não sei qual contato ele tem lá dentro, mas o meu contato cobra R$ 250".
A agência Demorvan quis R$ 400 pelo passaporte e R$ 600 para tirar também o visto norte-americano.
A agência Nelson Lopes e Matos cobrou R$ 350 para tirar o passaporte no mesmo dia.
Ameaças
O engenheiro e professor da Unesp Nazem Nascimento, 43, que mora em Guaratinguetá (interior de SP), disse que está sendo ameaçado pelo "esquema dos despachantes".
Para viajar à Alemanha, onde está dando um curso, Nascimento contratou um despachante da agência Pacto.
Segundo Nascimento, o despachante pediu R$ 300 para acelerar o processo. Nascimento pagou em cheque, recebeu o passaporte em 29 de maio e viajou.
O pai de Nascimento, José Augusto, sustou o cheque no dia seguinte. "Achei um absurdo pagar tanto", disse Nascimento.
Desde então, Nascimento afirma que seus parentes vêm recebendo ameaças do despachante.
O despachante Eduardo (não quis dar o sobrenome), que atendeu Nascimento, disse que cobrou R$ 300 porque o cliente mora no interior e não para agilizar a emissão do passaporte. "Tive gastos para buscar e levar os documentos", disse.

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