São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 1996
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Economistas discutem a globalização

50 anos de FEA/USP

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A globalização da economia é um fato inevitável, "avassalador", como disse o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. Mas não é necessariamente boa para todo mundo, nem é um processo concluído.
E de todo modo, exige certos tipos de controles, especialmente no que se refere à movimentação dos capitais financeiros.
Esses foram alguns dos pontos principais tratados ontem, em São Paulo, no primeiro dia do seminário internacional "Globalização: o que é seus implicações".
O encontro comemora os 50 anos da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, da Universidade de São Paulo.
A globalização, processo ainda não concluído, ocorre sob a predominância do capital financeiro, segundo a palestra do professor François Chesnais, da Universidade de Paris 3.
Diferentes
Houve, em todo o mundo, um crescimento desproporcional da riqueza financeira em relação ao capital produtivo.
Segundo Belluzzo, da Universidade Estadual de Campinas, que comentou a palestra de Chesnais, ocorre uma "financeirização" das famílias e das empresas.
Nesse mundo financeiro, as empresas produtivas tornam-se também financeiras e entram no jogo em condições diferentes.
Algumas conseguem ser competidoras globais, outras, ao contrário, sofrem a competição dentro de seus países ou seus setores.
Controles
Já o professor Richard Dale, da Universidade de Southampton, tratou da questão dos controles a serem aplicados nos movimentos financeiros internacionais.
Embora alguns participantes tenham manifestado restrições aos controles, sustentando a tese de que os mercados se regulam, a opinião dominante foi a de que algum controle deve haver.
Entre outras coisas, notou Dale, para proteger o consumidor, a pessoa que vai ao banco aplicar seu dinheiro e dá início a todo esse processo financeiro.
O economista Afonso Celso Pastore notou que há uma "assimetria" de informações.
Lembrou dos casos recentes dos bancos Econômico e Nacional. "No mercado financeiro, já se sabia que as instituições iam mal, mas o público não tinha como saber", disse Pastore.
No mundo todo, a proteção ao consumidor é preferencialmente feita através do seguro de depósito.
Dale discutiu as formas de controle possíveis no sofisticado mercado financeiro internacional.
Tratou do caso do banco inglês Barings, que quebrou com um buraco de US$ 1 bilhão, após dez dias de operações equivocadas de um seu funcionário em Cingapura.
Pastore ironizou. "Estamos ainda muito longe desse tipo de problema", observou. O Nacional fez um buraco cinco vezes maior, "sem nenhum derivativo".

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