São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 1996
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"mil e Uma" ri na cara do desespero

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

O filme "mil e Uma", de Susana Moraes, é um protesto bem-humorado contra o desespero. Faz um caleidoscópio de temas contemporâneos -corrupção, narcotráfico, a relação entre a arte e o Estado- para rir de todos eles. O filme estréia hoje, no Espaço Unibanco de Cinema.
"É uma forma lúdica e civilizada de lidar com o absurdo" diz a diretora. "mil e Uma" (assim mesmo, com a primeira letra minúscula para enfatizar o duelo entre a dispersão e a individualidade) narra a história de uma diretora que faz um documentário sobre a visita (fictícia) de Marcel Duchamp a São Paulo.
O tema do documentário é uma das chaves de "mil e Uma". Dadaísta e surrealista que ultrapassou os limites desses movimentos, Duchamp é um dos nomes centrais da arte contemporânea: absorveu, em sua produção, o nonsense do mundo.
Susana Moraes tenta algo semelhante. Além de Duchamp, convoca Lewis Carrol. A personagem central, nada casualmente, chama-se Alice. O país das maravilhas no qual ela mergulha é repleto de brilhos e enganos, longe no entanto dos temas infantis de Carrol.
Para conseguir dinheiro para as filmagens, Alice se envolve com Barão, um traficante de cocaína. Com a ajuda do ex-marido David, faz uma grande operação com o pó brilhante e levanta os recursos.
Os enganos e traições se sucedem: David faz outra venda de cocaína, mas é pago com dólares falsos e acaba preso. Barão se revela um policial. O músico Antonio, que faria o papel de Duchamp, vai embora para a Europa.
Como resultado de tanta confusão, Alice -e o filme- passa a misturar realidade e imaginação.
É o primeiro longa-metragem de Susana Moraes. Levou cinco anos para ser feito. "A Embrafilme fez um convênio com a Espanha, para co-produções. Aí, o Collor extinguiu a Embrafilme e os dez projetos aprovados ficaram na mão", diz Susana.
Após um mês de depressão, Susana voltou à carga. Renegociou com os espanhóis, que entraram com R$ 200 mil. O custo total ultrapassou R$ 500 mil -muito disso gasto com a paralisação do projeto. "Parar as filmagens é uma coisa muito cara", diz a diretora.
Feito sem qualquer lei de incentivo -"filmei no buraco negro"-, o filme tem trilha sonora de Péricles Cavalcanti, com participações de Adriana Calcanhoto, Arrigo Barnabé e Arnaldo Antunes.

Filme: mil e Uma, de Susana Moraes
Com: Giovanna Gold e Alexandre Borges
Trilha sonora: Péricles Cavalcanti
Onde: Espaço Unibanco de Cinema (rua Augusta 1.475)
Quando: estréia hoje, 15h, 16h40, 18h20, 20h e 21h40

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