São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 1996
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Cesaria Evora dissemina suas saudades

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

Saudade é sentimento comum aos cabo-verdianos. Sua pátria, liberta da colonização portuguesa desde 1975, conta com um grande contingente da população vivendo no exterior.
A temática da nostalgia dá o tom do trabalho da cantora cabo-verdiana Cesaria Evora, 54, que apresenta-se no Brasil pela segunda vez -a primeira foi em 94 no Sesc Pompéia- neste final de semana.
Amanhã e domingo ela canta no Tom Brasil. No dia 2 de junho, apresenta-se no parque ibirapuera, às 11h, em show gratuito.
Em crioulo -língua que mistura português e dialetos- Cesaria destila sua melancólica poesia. Fala de saudades, de abandono, do desprezo pelo negro e, com lirismo exacerbado, de amor.
Porta-voz da cultura cabo-verdiana, ela dissemina a morna e a coladeira por onde passa. A morna é um estilo de canção que lembra o fado português e o samba-canção brasileiro. Já a coladeira é mais dançante e lembra o calipso.
Musa descalça
É conhecida por andar descalça. Segundo ela, porque o chão de sua terra é muito quente e os sapatos agarram-se a seus pés. Quando foi viver em Paris, achou o solo gelado e sentiu mais "sodades" de casa.
Cesaria começou a cantar na década de 50, influenciada pelo compositor B. Leza, que reunia artistas em saraus em sua casa. Nos anos 60, cantava no Rádio Clube de Mindelo, sua terra natal, na ilha de São Vicente, em Cabo Verde.
Gravou 10 discos, seis deles na Europa: "Cesaria" (1987), "La Diva aux Pieds Nus" (1988), "Destino de Belita" (1990), "Mar Azul" (1991), "Miss Perfumado" (1991) e "Cesaria" (1995).
Nunca fez muito sucesso. Em 92, a onda da world music revelou a cantora para a Europa. Seu álbum "Miss Perfumado" chegou a vender então, 100 mil cópias na França e 30 mil em Portugal.
Em 94, veio ao Brasil para conhecer seu ídolo de infância, a cantora Ângela Maria, e fazer shows -um deles ao lado de Caetano Veloso. A mezzo soprano que adora marchinhas dos anos 30, vem de shows em Hong Kong e em Paris.
Cesaria
Seu último disco "Cesaria", foi lançado no Brasil pela BMG-Ariola. O álbum recupera a simplicidade da canção do Cabo Verde, baseada no violão e no cavaquinho, em detrimento do piano e outros arranjos que incrementaram seus álbuns anteriores.
Na tentativa de fugir do rótulo da world music, Cesaria fez um disco simples e até didático. Os ritmos são claramente sinalizados e os arranjos muito típicos da música das ilhas. Cesaria volta agora a ser o que era antes de virar "moda" na Europa: embaixadora da canção pátria, com toda a melancolia que personaliza seu repertório.

Show: Cesaria Evora
Onde: Tom Brasil (r. das Olimpíadas, 66, tel. 820-2326)
Quando: dias 25 e 26 de maio
Quanto: de R$ 25 a R$ 45
Onde: parque ibirapuera
Quando: dia 2 de junho às 11h

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