São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 1996
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FANTASIA OFICIAL

Pode-se esperar que qualquer governo trate de minimizar os aspectos negativos de uma conjuntura pela qual é co-responsável. Se estão convencidas, por exemplo, de que a contenção do crescimento faz-se necessária para evitar um maior desequilíbrio externo e controlar a inflação, é compreensível que autoridades procurem convencer o público de que as dificuldades e ônus não são assim tão graves, que eventuais reclamos não passam de casos particulares, questões menores.
Menos mal se for dessa ordem a explicação para a afirmação do presidente Fernando Henrique Cardoso de que não há um único indicador que seja preocupante na área macroeconômica. No último trimestre do ano passado o PIB estagnou e entre janeiro e março últimos os dados preliminares apontam crescimento negativo de 1,7% na comparação com igual período do ano anterior. Os juros fizeram a dívida interna disparar. O desemprego vem aumentando segundo todos os indicadores.
Será efetivamente preocupante, isto sim, se, além das dificuldades reais, o país tiver de lidar com um largo descompasso entre as angústias da população e do setor produtivo e a percepção que delas tem o governo.
São desencorajadoras, para dizer o menos, as observações de uma das lideranças industriais presentes ao encontro em Brasília. Segundo Mario Bernardini, vice-presidente da associação dos fabricantes de máquinas e equipamentos, o discurso presidencial mostrou "um total alheamento da realidade". Considerou que o presidente "está convencido de que a indústria está indo bem e que somente meia dúzia de fracassomaníacos criticam o plano". Se for essa a avaliação oficial, tanto pior.
O prestígio pelo combate à inflação é meritório e inegável. Mas já não parece ser uma barreira inabalável contra a qual chocavam-se, até há pouco sem efeito, quaisquer marolas de insatisfação. O país enfrenta problemas reais. Resta esperar que o governo o perceba o quanto antes.

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