São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 1996
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UNILATERALISMO DOS EUA

É ano eleitoral nos Estados Unidos. As ações do governo, portanto, devem ser vistas sob o mesmo prisma crítico que merecem todos os governos cujos mandatários pretendem a reeleição. O problema lá é que o populismo doméstico é geralmente feito à custa de bodes expiatórios externos. E países em desenvolvimento podem ser as vítimas.
No passado, o Japão foi eleito como vilão. Agora o Japão é novamente o aliado na manutenção da segurança regional asiática e a China tornou-se o novo objeto de compulsão xenófoba tipicamente eleitoreira.
Na América Latina, o alvo preferencial é Cuba, já que a ameaça de uma invasão de mexicanos pelas fronteiras foi mais ou menos exorcizada com o Nafta e, de todo modo, o presidente Clinton fez do acordo e da ajuda ao México um ponto de honra.
Ontem o Departamento de Estado americano voltou à ofensiva. Promete para breve a aplicação de sanções a empresas que negociem com Cuba.
O paradoxo, entretanto, é que o próprio México reagiu. O chanceler José Angel Gurría reuniu-se com empresários mexicanos para, nas suas palavras, "desenhar uma estratégia sólida" contra a pressão do parceiro no Nafta. Em jogo, negócios da gigante Cementos Mexicanos (Cemex) e de uma empresa de telecomunicações mexicana que já colocou em operação 37 mil linhas de telefonia digital na ilha. Nos últimos cinco anos, cerca de 200 empresas mexicanas entraram no mercado cubano.
Numa época de globalização crescente em todos os campos, os governos e as empresas procuram nos vários países fortalecer simultaneamente as alternativas regionais. O paradoxo emergente no relacionamento entre México, Cuba e Estados Unidos mostra quão complexo é o processo de globalização.
A retaliação unilateral pode complicar o relacionamento no Nafta, pois empresas do Canadá também têm negócios em Cuba. Mas poderá eventualmente render alguns votos ao candidato Clinton.

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