São Paulo, sábado, 25 de maio de 1996
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Cineasta precoce estréia filme trash

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Surge o neo Zé do Caixão no cenário trash nacional. Cesar Nero, 23, é a nova promessa do ramo. Ele lança semana que vem o filme "Babu e a Vingança Maldita". Nero demorou cinco anos para finalizar seu longa de estréia.
Começou a escrever o roteiro aos 16 anos, quando já havia rodado três curtas trash.
"Babu" é a história de um líder juvenil que prestava serviços ao demônio e por isso foi morto por seu senhorio. Ele é Babu, que retorna em formas diferentes para realizar sua vingança (leia abaixo).
Histórico cinematográfico "A Fera Assassina" foi o filme que marcou o "début" de Nero no cinema. Tinha então 12 anos e uma super-8 que ganhou dos pais.
"A Fera Assassina" era um thriller de 15 minutos de atrocidades cometidas por um lobisomem. Família e atores de teatro amigos formavam o seleto elenco.
Aos 14, mais maduro, Nero realizou "A Invasão dos Dinossauros", uma animação que também tinha duração de 15 minutos.
"O Gato do Diabo" saiu aos 16 anos. Neste filme, um ritual de magia negra transformava um gato em um monstro enorme que matava pessoas durante a noite.
O gato gigantesco foi criado por Octavio Campos -o mesmo especialista em efeitos especiais e trucagens de "Babu".
Nova era "Babu e a Vingança Maldita" inaugura uma nova era na vida de Nero. Foi rodado em equipamento U-Matic alugado.
Como o filme não teve patrocinadores ou apoios, Nero trabalhou em bicos, como na edição gravações de casamentos em vídeo, para arcar com os custos.
O orçamento total do filme foi de R$ 60 mil, levantados durante os cinco anos de produção.
Aos 18 anos, quando Nero já tinha o roteiro de "Babu" pronto, ele enfrentou sua primeira encruzilhada: "Precisava decidir entre prestar vestibular para cinema, ou tentar aprender na prática. Arrisquei fazer o filme."
Assim ele descobriu cedo as dificuldades de se fazer cinema. Batalhou sem sucesso por patrocínio em várias empresas.
Nero se virou para juntar dinheiro ("interrompia as filmagens quando ele acabava"), chamou os atores o trucador Octavio Campos e contou com o incentivo do cineasta austríaco radicado no Brasil Norbert Novotny.
Juntou o roteiro e o que já tinha rodado e bateu à porta de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, para convidá-lo para fazer uma participação especial no filme.
Depois de avaliado o trabalho, Zé do Caixão topou participar -e tem cenas ao longo de todo o filme, que são seu fio condutor.
Nero usou trechos e baseou cenas inteiras a partir do "Verdadeiro Livro do Satanismo". "É um livro proibido para não-adeptos do culto a Satanás. Nem sei como consegui um exemplar."
Fato é que Nero resolveu divulgar muito do livro. Toda a primeira sequência mostra como é o culto a Satã, com invocações literais extraídas da publicação proibida.
Talvez por isso, acredita o diretor, coisas estranhas começaram a acontecer nas filmagens. Objetos de cena sumiam sem explicação. A gravação da trilha sonora -que acompanha o filme todo- teve uma série de transtornos.
O grupo Crematório, que fez a trilha, teve de gravar várias vezes a música. "Misteriosamente, o instrumental que gravamos a cada dia tinha um tempo diferente."
Num dos dias de gravação, um balão caiu e incendiou a casa de um dos integrantes do Crematório. Também o Crematório viveu uma experiência única: "Ligaram o carro e não conseguiram mais desligá-lo", segundo o diretor.
Apuro maior viveu o próprio Nero. Em uma de suas investidas por patrocínio, não aguentou a pressão e foi acometido de um infarto. Tinha então 21 anos.
O futuro já está traçado para Nero. "Já tenho mais de dez roteiros, mas vou demorar para rodar outro filme", diz. Sua preocupação agora é divulgar "Babu". A maior ambição, lançá-lo nos EUA, "onde Zé do Caixão é unanimidade".

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