São Paulo, sábado, 25 de maio de 1996 |
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Síria dá apoio indireto ao premiê Peres Votação é na quarta CLÓVIS ROSSI
O premiê disputa voto a voto com o líder conservador Binyamin Netanyahu a eleição a se realizar na próxima quarta-feira. A Síria é um dos dois países fronteiriços que não fechou acordo de paz com Israel. O outro é o Líbano, hoje, aliás, mero protetorado sírio. A intervenção da Síria pró-Peres foi típica do tortuoso modo de se fazer política no Oriente Médio: o jornal oficial "Al-Thawra" criticou Peres, em vez de elogiá-lo. Acusou o premiê israelense de ser "falso" nas suas falas sobre a paz, para "embelezar a sua imagem para as eleições sionistas". No que uma crítica ajuda Peres? Os eleitores israelenses que querem a paz, mas desconfiam que Peres pode ser brando demais com os sírios, ganham um motivo para se tranquilizar. Já os que querem a paz e podem temer que Peres seja duro demais não vão levar a crítica síria em conta pois seu rival, Netanyahu, é muitíssimo mais duro. Interferência A Síria é apenas o mais recente personagem a aderir a imensa galeria de atores políticos internacionais que não se cansam de interferir no pleito israelense -em 99% dos casos, a favor de Peres. Anteontem, foi a vez de Malcolm Rifkind, ministro britânico das Relações Exteriores. "Fechar a opção de um Estado (palestino) seria, em meu modo de ver, um erro de primeira grandeza", afirmou Rifkind. Ora, Netanyahu, o "Bibi", não se cansa de fechar essa opção, enquanto os trabalhistas de Peres revogaram cláusula de sua plataforma que também vetava o Estado palestino. O governo norte-americano, então, faz, dia sim, dia não, algo em favor de Peres. A ponto de o colunista do jornal "The Washington Post", Charles Krauthammer (simpático a "Bibi"), ter escrito: "A administração Clinton quer reeleger o primeiro-ministro Shimon Peres quase tanto quanto quer reeleger Bill Clinton." Terrorismo É natural, ante esse envolvimento quase generalizado, que o ministro do Interior e chefe de campanha de Peres, Haim Ramos, tenha dito que "o Irã está fazendo um tremendo esforço, empregando o Hizbollah (Partido de Deus), o Hamas e a Jihad (Guerra Santa) Islâmica, para determinar quem será o futuro premiê de Israel". É uma alusão ao terrorismo, combustível inegável para a candidatura de "Bibi". Em todo o caso, o Hamas pode sair da lista, se seu líder espiritual, Ahmed Yassin, que está preso, fizer de fato o anunciado apelo para que não haja atentados até a eleição da próxima semana. O apelo está sendo prometido há dias, mas, até a noite de ontem, não fora divulgado. Yassin limitou-se, até agora, a admitir que discutira com outros fundadores do Hamas (Sayed Abu Musaneh e Mohammed Shama) as negociações com o presidente da Autoridade Palestina, Iasser Arafat, para suspender a violência em troca de mais participação nos assuntos políticos palestinos. A hipótese do congelamento do terror não ajuda apenas Peres. O próprio Hamas se beneficia, porque vem perdendo apoio em consequência do bloqueio israelense ao acesso de palestinos a Israel, após os atentados de fevereiro e março, que deixaram 62 mortos. Resultado inevitável: aumento do desemprego e da pobreza, especialmente em Gaza (a parte sul do território palestino), dado que boa parte da renda dos palestinos vem dos empregos em Israel. Texto Anterior: Filho de Rodríguez Orejuela é baleado Próximo Texto: As eleições Índice |
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