São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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Perito sugere cautela com derivativos

Mercado é de US$ 10 trilhões

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O matemático inglês naturalizado canadense John Hull especializou-se num assunto tão moderno quanto desconhecido da maioria das pessoas -o trilionário mercado de derivativos.
Na quinta-feira, ele reuniu 150 executivos de bancos e empresas em um hotel paulistano para falar de "hedge", "swap", "swaption", "caps", "collars", conceitos caros ao mercado financeiro.
Cada executivo pagou até R$ 980 para ouvi-lo. Já os estudantes da Universidade de São Paulo o ouviram, de graça, na FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade).
Autor de dois best-sellers do gênero -"Options, Futures and other Derivative Securities" e "Introdução aos Mercados Futuros e de Opções" (publicado no Brasil pela BM&F)-, Hull diz que os derivativos movimentam mais de US$ 10 trilhões por ano no mundo.
"Muita gente, devido a prejuízos gigantescos que grandes corporações norte-americanas tiveram com esses instrumentos financeiros, referem-se aos derivativos como a palavra D", diz Hull.
Em entrevista à Folha , o especialista explica como as empresas podem evitar contratempos e ganhar mais com os derivativos.
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Folha - O que são derivativos e para que servem?
John Hull - São instrumentos financeiros cujo preço depende do preço de uma outra coisa. Por exemplo, uma opção de compra de ação, que depende do preço da ação. Os derivativos podem ser usados para especulação ou para "hedge" (proteção).
Folha - Eles são mais usados para especulação ou para proteção?
Hull - Para proteção. Mas já foram usados indevidamente para especulação por algumas empresas, que perderam mais de US$ 100 milhões cada uma. No caso do banco britânico Barings, as perdas superaram R$ 1 bilhão. Outro caso foi o da Procter & Gamble, que briga na Justiça com o Bankers Trust, devido a um derivativo exótico.
Folha - O que é um derivativo exótico?
Hull - É aquele em que o acerto de contas é definido de forma não padronizada. Um derivativo que depende de uma variável qualquer e não do preço final do ativo. No caso da Procter, o pagamento foi calculado na diferença entre as taxas de juros de cinco e de três anos, multiplicado por 20 vezes.
Folha - E por que isso aconteceu?
Hull - O que aconteceu é que algumas pessoas estavam fazendo "hedge" originalmente, mas com o tempo ficaram confiantes e achavam que podiam especular. Esse é o principal problema dos derivativos. Esses instrumentos podem ser usados incorretamente. Eles multiplicam apostas, mesmo que a empresa não tenha caixa para bancar os ativos. São úteis, quando usados para proteção.
Folha - Que lições podemos tirar desses casos?
Hull - A maior lição é a importância de controles internos rígidos e claros sobre o uso de derivativos. As pessoas que lidam com derivativos sempre agiram como prima-donas, como se não devessem explicar seus atos. Isso está mudando. A gerência de riscos e os controles internos ganharam importância.
Folha - Deve-se sempre fugir das apostas especulativas?
Hull - Numa grande empresa, sempre haverá alguma tomada de posições, além do "hedging". O ponto crítico é controlar o tamanho da exposição (riscos assumidos) no final do dia.
Folha - O senhor recomenda uma exposição máxima?
Hull - Vamos olhar o caso Barings, em que o operador de Cingapura tomou posições no índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio. Perguntaríamos: se o índice Nikkei cair 50 pontos, quanto perderíamos? Qual é o pior cenário de perdas? Essa é a essência dos relatórios que devem fazer parte dos controles internos.

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