São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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Globalização traz ameaça

DA REPORTAGEM LOCAL

Folha - Com a globalização, a ameaça de um colapso financeiro ficou maior hoje que as ameaças de guerras. O senhor concorda?
Hull - Sim, há tanta ligação entre os mercados e as instituições que, se um grande banco quebrasse, poderia haver um efeito dominó no mercado. É o chamado risco sistêmico, que tanto preocupa.
Folha - Por que há tanto medo com relação aos derivativos?
Hull - Há 15 anos, nem existia o mercado de balcão, de US$ 4,5 trilhões. Qualquer coisa que cresce com tal velocidade preocupa. Às vezes, os derivativos são chamados de "D-word" (a palavra D), como um palavrão em que se diz a primeira letra quando se está em público. Isso é por causa dos prejuízos elevados.
As pessoas entendem prejuízos dos bancos com empréstimos habitacionais, mas não compreendem as perdas com derivativos. Elas não sabem exatamente com o quê se preocupar, mas se sentem desconfortáveis.
Folha - O senhor sente-se assim?
Hull - Não. Talvez haja uma chance em mil ou 10 mil de haver um terrível soluço. Mas deveríamos pensar nisso.
Folha - Além do Barings, que perdeu US$ 1 bilhão e quebrou, alguma empresa realmente foi à lona devido ao mal uso de derivativos?.
Hull - Não.
Folha - Que tipo de "hedge" o senhor recomenda?
Hull - De variação cambial, para empresas exportadoras ou com exposição em moeda estrangeira.
Folha - Os derivativos custam dinheiro. Com a economia internacional cada vez mais competitiva, eles não ficariam muito caros, a ponto de reduzir a eficiência das empresas?
Hull - Um dos propósitos do "hedge" é reduzir custos, mas se os eventos ruins não acontecem, poderia-se dizer que sim. Mas a vantagem do "hedging" é garantir resultados mínimos. Em média, o "hedging" só dá dinheiro para a empresa metade das vezes. Em 50% das vezes, o executivo vai dizer: Puxa, quisera eu não ter feito "hedge"! Se ele perder dinheiro em mais da metade das vezes, então terá razão se ficar zangado.

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