São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Peres quer um "novo Oriente Médio"

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

Shimon Peres, 72, o premiê israelense não é exatamente um homem capaz de provocar indiferença. Ou é elogiado como uma espécie de profeta ou condenado como um farsante.
Para o escritor israelense, o pacifista Amos Oz, seu eleitor assumido, Peres é "um sonhador realista, um teimoso conciliador", um elogio em forma de paradoxos.
É também parecido à descrição feita pelo presidente Fernando Henrique Cardoso de seu novo ministro de Assuntos Políticos, Luiz Carlos Santos. Este seria capaz de "dar nó em fumaça".
Peres, para Oz, é "um incansável amarrador de fios soltos".
Já para seus adversários é o contrário: "Posso dizer com segurança que ele é o mais talentoso manipulador de palavras jamais produzido pelo sistema político israelense", diz Yossi Ben-Aharon, chefe de gabinete dos governos conservadores em 1986 e 1992.
O sonho confessado de Peres, um histórico do trabalhismo israelense e da social-democracia mundial, é ajudar a construir "um novo Oriente Médio", tema aliás de um livro seu.
Como? Eliminando "velhas animosidades, de forma que a coalizão contra o fundamentalismo não será só dos israelenses, mas incluirá os árabes e outros também".
É um jogo de confiança. O premiê israelense acredita que o inimigo de Israel já não são os árabes em geral, mas apenas os radicais, por sua vez, também inimigos dos demais árabes moderados.
Se essa tese for comprada pelo eleitorado, esse polonês de nascimento terá a sua vingança, dado que perdeu quatro eleições e só foi primeiro-ministro antes (84-86) em consequência de um acordo com o Likud para a formação de um governo de unidade nacional.
Perdeu igualmente a eleição interna no seu Partido Trabalhista para Yitzhak Rabin, em 1992. Virou chanceler, com a vitória de Rabin sobre o Likud. E de novo o acaso o fez premiê, com o assassinato de Rabin, em novembro passado por um fanático judeu.
Crime que deixou marcas na campanha de Peres: policiais com cães ferozes e agentes do Shin Bet (serviço secreto), com rifles M-16, o cercam em aparições públicas, que, por isso, ficam pouco públicas. Sua explicação para a candidatura não foge ao lugar comum: "É o sentido de missão a cumprir".

Texto Anterior: Votação dificulta dia-a-dia dos palestinos
Próximo Texto: Netanyahu está "faminto" pelo poder
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.