São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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ZELO E IMPOPULARIDADE

O segundo recorde consecutivo de desemprego na Grande São Paulo, a caravana de industriais a Brasília contra as políticas recessivas e a união das centrais sindicais em protesto marcado para 21 de junho são evidências de que a situação social e econômica está-se deteriorando.
Trata-se de sinais que não podem ser simplesmente relegados como fatos sem consequências e, portanto, de menor importância para o governo. Cria-se uma situação qualitativamente nova e mais difícil.
Já há algum tempo ocorrem reclamos contra os elevados custos sociais e econômicos atribuídos por muitos ao excesso de zelo na política de juros altos e contenção do crédito. A pesquisa Datafolha publicada no último domingo revela que as dificuldades -em muitos casos dramáticas- impostas pelas políticas de contenção finalmente atingiram a popularidade do presidente.
Ganha extrema relevância, portanto, a administração do que os economistas chamam de "sintonia fina", ou seja, o gerenciamento do nível de atividade de modo a conter a inflação, mas também evitar extremos do ponto de vista do desemprego e da queda no crescimento.
Por longos meses o governo brandiu sua popularidade para afirmar que os reclamos contra a recessão não passavam de lobby de alguns poucos setores. Pois a situação mudou e a estabilidade monetária deixou de ser vista como uma panacéia. O controle da inflação continua certamente prioritário. Mas há indicadores de que o arrocho creditício pode estar sendo excessivo.
Se, do ponto de vista técnico, tal matéria está sempre sujeita a controvérsia, parece claro ao menos que os efeitos do arrocho creditício já foram capazes de descontentar parcela expressiva da população.

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