São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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a nova Cinderela da Moda

ERIKA PALOMINO

Saída de uma cidade de 6.000 habitantes, há três meses em NY, a brasileira Shirley Mallman trabalha com os melhores do mundo
Um fenômeno. É o mínimo, para se descrever a ascensão de foguete vivida pela jovem modelo brasileira Shirley Mallman. Aos 19 anos, e no período de três meses, Shirley já foi fotografada pelos principais fotógrafos do mundo. Cinderela fashion para nenhuma Linda Evangelista botar defeito.
Isso mesmo. Nem as mais novas tops do planeta -como Carolyn Murphy ou Guinevere- viram coisa semelhante acontecer com elas.
O conto de fadas de Shirley começou lá na pequena cidade de Santa Clara do Sul, de 6.000 habitantes, no interior do Rio Grande do Sul.
"Você tem jeito de modelo", costumava ouvir. Mas nunca levou muito a sério, apesar de hoje -como qualquer menina- lembrar que gostava de brincar de desfile.
A brincadeira virou profissão depois de um curso de manequim. Pequenos trabalhos a trouxeram a São Paulo em abril de 95.
"Era meio gordinha, ficava meio quadrilzuda e deixei de pegar muita coisa porque não entrava nas roupas", conta Shirley.
Fecha a boca senão você não vai trabalhar, ouviu de seu booker Eli Hadid Wahbe -"Devo muito a ele!"
Então Shirley fechou a boca, como ela mesma diz. Fez ginástica e perdeu quatro quilos (hoje vive tranquila com 56 quilos para seus 1,82 m). Passou assim a pegar desfiles importantes, bons editoriais nas revistas e fotos de publicidade.
Mas o grande baile só ia começar mesmo com a chegada ao Brasil da fotógrafa alemã Ellen von Unwerth, sua verdadeira fada madrinha, importada para a campanha da marca Forum.
A princípio, Shirley estava no casting apenas para um papel secundário no novo catálogo. Mas a empatia das duas foi imediata; ela já saiu de estrela da Forum e as duas já falando em alemão, o segundo idioma de Shirley.
Ao final do trabalho, ao saber que Shirley iria tentar a sorte em Nova York, Von Unwerth a colocou num trabalho na "Vogue" América -no dia seguinte de sua chegada à cidade.
Mais: ligou pessoalmente para fotógrafos e "stylists", recomendando-a para os trabalhos da temporada de primavera-verão que começava por lá. "Quando eu chegava nos castings já sabiam quem eu era", espanta-se Shirley: "A Ellen é um amor".
Também já sabiam, quando a modelo chegava aos trabalhos, que ela não falava inglês direito. Nem precisava. Logo era providenciado alguém que falasse espanhol, para facilitar.
Assim, com um dicionário, a simpatia e o sorriso aberto que são marcas registradas tanto quanto os olhos azuis e a pele sardenta, Shirley superava uma das maiores barreiras das modelos iniciantes.
Vamos à lista: Steven Meisel, Patrick Demarchelier, Peter Lindbergh, Albert Watson, Gilles Bensimon, Wayne Mayser, Helmut Newton. Desfiles de Richar Tyler, Marc Jacobs, Anna Sui, Miu Miu. Campanhas para Dolce & Gabbana, Blumarine e a marca de jeans Guess?, que já lançou Claudia Schiffer e Eva Herzigova.
"Vi hoje na banca uma 'Elle' com três páginas minhas", conta Shirley, animada, por telefone, de Nova York. "É como um sonho, jamais poderia pensar que eu estaria aqui, assim", diz com simplicidade, sem deslumbramento ou bobeira.
Shirley no Brasil só em agosto, quando ela poderá ver a família no sul e se encontrar com o namorado, Gustavo Vicenzotto, um dos diretores da agência Mega.
"Adoro o Brasil", suspira Shirley -pela primeira vez longe de casa e do país. "Sinto tanta saudade e tanta falta da churrascaria..."

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