São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 1996
Texto Anterior | Índice

Mostra tem Eisenstein quase completo

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

A Cinemateca abre hoje um ciclo com nome complicado: "Atrações e Construções Extáticas - O Cinema Segundo Sergei M. Eisenstein".
À parte o nome, o que se vai mostrar tem peso: são todos os filmes do cineasta russo (1898-1948), com exceção de "A Linha Geral".
A pertinência da mostra vem mais do trabalho cinematográfico de Eisenstein do que da política. Seu trabalho quase sempre foi julgado à sombra da existência da URSS.
O que é correto: desde "Greve" (1924), tudo girou em torno da política e da construção da URSS.
Foi a preocupação em buscar uma linguagem proletária que o levou a criar a "montagem de atrações" (a idéia de que o sentido de um filme surge do choque produzido pelo encontro entre duas cenas).
É a idéia central que já se encontra em "O Encouraçado Potemkin" (1925) ou em "Outubro" (1928).
Comunista, mas não stalinista, Eisenstein amargou longos períodos de silêncio, do qual foi tirado para fazer um filme de exaltação nacional, "Cavaleiros de Ferro".
Durante a Segunda Guerra, teve a última chance, com "Ivan, o Terrível" (1944/46), grandioso filme em duas partes. Stalin se reconheceu na imagem do czar e não gostou. O filme encerrou a carreira do cineasta.
Nesse meio tempo, foi aos EUA, contratado pela Paramount. Não conseguiu filmar e foi para o México, onde fez "Que Viva México!", em 1931, que não chegou a montar.
Desse filme misterioso, serão mostradas três versões. "Time in the Sun" (1939) é o diário de filmagem montado por Marie Seton; "Eisenstein's Mexican Project" (1957), de Jan Leyda, tem todo o material bruto na ordem de filmagem. "Que Viva México!" (1981) é a versão montada por Gregori Alexandrov, colaborador do cineasta.
Completa o ciclo "O Prado de Bejin" (1935). Com produção difícil, teve seus negativos destruídos na Segunda Guerra. Mas Eisenstein guardou fotogramas de cada cena, e a partir daí foi montada, em 1967, a versão a ser exibida.
"Mexican Symphony", série de três filmes didáticos organizados a partir do material filmado na ocasião, também será mostrada.
Eisenstein foi um dos maiores estetas do cinema, dos raros a partir das imagens da pintura clássica. Este é o aspecto de sua obra que se poderá observar com mais clareza, à margem da política.

Ciclo: Atrações e Construções Extáticas - O Cinema Segundo Sergei M. Eisenstein
Onde: sala Cinemateca (r. Fradique Coutinho, 361, tel. 881-6542)

Texto Anterior: Bienal terá Jackie O. e Mao de Warhol
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.