São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 1996
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Protesto contra FHC acaba com 2 prisões

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DE PARIS

Duas pessoas foram detidas (Laurent Remy e Didier Baggery) ontem à tarde, em Paris, durante manifestação de 31 ONGs (Organizações Não-Governamentais) francesas contra a situação dos sem-terra, sem-teto e das crianças de rua no Brasil.
O protesto foi realizado no segundo dia da visita oficial do presidente Fernando Henrique Cardoso à França. Cerca de 200 pessoas participaram do ato realizado diante do Consulado do Brasil na capital francesa.
FHC e sua comitiva, neste momento, se encontravam no palácio Marigny, onde estão hospedados.
Houve confronto entre polícia e manifestantes, quando estes despejaram terra na esquina da avenida Champs-Elysées com a rua Berry, onde fica o consulado -que ontem estava fechado em razão de ser feriado.
Terra
Inicialmente a manifestação estava marcada para a praça Chatelet, no centro de Paris. De metrô, os manifestantes foram para a Champs-Elysées onde os atos públicos são proibidos.
Pouco depois que o grupo de representantes das ONGs chegou ao local, surgiu um caminhão de terra. A idéia era que cada manifestante pegasse um punhado de terra e colocasse em uma carta já postada e endereçada ao presidente brasileiro como protesto.
Neste momento a polícia interveio com violência para tentar impedir a manifestação. O tumulto durou alguns minutos de empurrões, tapas e correria. Dois franceses foram presos.
Os manifestantes carregavam faixas pedindo justiça, cantaram a música "Funeral de um lavrador", de João Cabral de Melo Neto e Chico Buarque e gritaram palavras de ordem contra FHC e contra a situação dos sem-terra.
Entre os manifestantes estava o sociólogo Michael Lõwy, ex-aluno de FHC na Universidade de São Paulo (USP) e com quem estudou "O Capital", de Karl Marx.
"Em 'O Capital' há um capítulo sobre a espoliação dos camponeses como parte da acumulação primitiva de capital. A gente percebia essa situação no Brasil da época (referência aos anos 60). Infelizmente isso não mudou muito hoje em dia. Não sei se ele se lembra disso", declarou Lõwy.
Bispo protesta
Outro integrante do ato, monsenhor Gaillot, bispo francês conhecido na luta contra o problema dos sem-teto disse: "A luta contra a injustiça não tem fronteiras. É simbólico que o ato de descarregar o caminhão de terra tenha sido na maior avenida do mundo".
Poucos minutos após a manifestação, FHC recebeu no Marigny representantes de ONGs.

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