São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 1996
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Covas demite secretários do PFL e acirra oposição

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), demitiu ontem às 12h30 os secretários de governo que pertencem ao PFL. A reação imediata do partido foi se colocar na oposição à administração tucana na Assembléia Legislativa.
O rompimento da coligação ocorreu porque os pefelistas decidiram na semana passada apoiar, na eleição municipal deste ano, Celso Pitta, candidato do prefeito paulistano Paulo Maluf (PPB).
A aliança PSDB-PFL foi selada durante o processo eleitoral que elegeu Covas governador em 1994.
Foram afastados os secretários da Agricultura, Antonio Cabrera, e da Habitação, Antonio Nogueira Duarte Júnior.
Diretores de duas estatais -Ceagesp e Codasp- deverão ser substituídos, em processo que no Palácio dos Bandeirantes foi chamado de "limpeza".
O presidente da Cosesp (Companhia de Seguros do Estado de São Paulo), João Leite Neto, deixou o PFL e permanecerá no governo.
O PFL tem cerca de 150 cargos de segundo e terceiro escalões.
Deterioração
A demissão dos pefelistas já se desenhava desde terça-feira passada. Caso o partido confirmasse sua adesão ao PPB no pleito municipal, Covas já dizia, naquele dia, que ficaria "constrangedor" para o PFL permanecer no governo.
Na quarta-feira, Cabrera recebeu um ultimato de Robson Marinho, secretário da Casa Civil de Covas.
Na sexta-feira, o PFL -que já se considerava desprestigiado pelo governo- decidiu então, segundo Cabrera, rejeitar a pressão "de um partido (o PSDB) que nem candidato tem definido".
Em reunião do colegiado interno (por 36 votos a 1), o PFL resolveu apoiar o PPB na eleição paulistana. Pelo acordo com o PPB, que assim ganhou mais tempo na TV para divulgar o nome de Pitta, o PFL terá apoio malufista em outras cidades.
O desgaste da relação do governador com o PFL cresceu a partir do instante em que Covas decidiu esvaziar a pasta da Agricultura.
O tucano reduziu a verba destinada à pasta -fixada em 0,5% do Orçamento do Estado.
Articulava também a transferência da Codasp (Companhia de Desenvolvimento Agrícola do Estado) da pasta da Agricultura para a Secretaria da Justiça, para atender os assentamentos de sem-terra.
Nogueira, por sua vez, era um secretário quase sem poder. A CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado), que operacionaliza o setor, está em mãos tucanas.
Fim de conversa
Ontem, o encontro de Cabrera e Covas durou cerca de 20 minutos. Cabrera argumentou que não havia o compromisso do PFL de apoiar o PSDB nas eleições municipais. Covas foi seco: "Os cargos são de confiança. O senhor os devolva." A conversa acabou aí.
Covas perde a maioria que tinha na Assembléia Legislativa. Era uma maioria apertada (49 deputados), que já oscilava nas votações, a ponto de rejeitar a privatização da Codasp. "Vamos negociar cada projeto", disse Covas.
O racha paulista não altera a posição nacional do PFL de apoiar FHC. "Foi Covas quem rompeu a aliança", disse Cabrera.

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