São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 1996
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Só o Santos conseguirá dar 'it' ao Paulista

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, quando poucos ainda esperavam por alguma atração adicional a este Paulista, que parecia irremediavelmente verde, o don Giovanni, que andava no encalço de um bela performance para a sua ópera, desencanta e encanta no crepúsculo dos deuses do fut no semestre.
(Que raios imolam o ludopédio por estas searas de sem terras e sem campos! Mal terminamos um semestre de fut e parece que já passou um ano todo, quiçá, uma vida inteira de jogo de bola!).
O Santos tem dado a graça, o charme (no duplo sentido, de sedução -antigamente falava-se "it", lembra-se?-, e da batida funkeira do charme que tanto agrada à galera peixeira) ao futebol Paulista nas últimas competições.
Sendo um time com um pouco mais de estrutura econômica, administrativa e tecnológica, seria uma alternativa real ao título, em cada competição.
Monta um time competitivo, não consegue ganhar peso durante a competição e esvai-se como um delicioso queijo da serra da Estrela devorado em noite de vinho do Porto.
Digo isso por uma simples e boa razão: se o Palmeiras continuar absoluto, o interesse pelo futebol pode decrescer.
Nada contra o Palmeiras e suas belíssimas exibições de "can can", aos bailes, como se fosse uma Orquestra Tabajara, futebolísticos que vem exibindo. Que este time continue a ser a nossa fascinação.
Mas, diachos, sem partidos contrários, sem alternativas de embates, sem potenciais competidores, o Palmeiras virará uma espécie de PRI mexicano, com as suas sucessivas gerações de poder.
Veja bem o que está ocorrendo: nunca se viu tantos gols no Paulista, o campeonato, o Palmeiras e o Santos com a média acima de três tentos assinalados em cada jogo.
Maravilha, essa sempre foi a senha do meu sonho no fut: bola pra frente e gols, orgia de gols, por favor.
E o que está ocorrendo? Se não houvesse o estalar santista, comandado pelo sedutor don Giovanni, o melhor dos Paulistas acabaria no mais tedioso (com exceção da alegria alviverde, é claro) dos enredos.
Sem dúvida, a fórmula de pontos corridos é a mais justa.
Mas, quando um time dispara à frente, o mais espetaculoso pode acabar no fastio abissal. Nossa fórmula foi híbrida.
Quer dizer, o regulamento não botou fé no Palmeiras. Poderá ser salvo pelo Santos.
Como diria aquele poeta da vanguarda russa, é melhor morrer de gol do que morrer de tédio. Que venha o Giovanni para salvar o campeonato.
O justo, o correto, o certo, o verdadeiro, o lógico é que o Palmeiras fique com o título com juros, correção monetária, distinção, louvor.
O maravilhoso seria o Santos criar o frisson de uma reviravolta. Só assim, o melhor Paulista seria ainda melhor.

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