São Paulo, quarta-feira, 29 de maio de 1996
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Relação entre FHC e França tem 30 anos

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os vínculos estreitos de Fernando Henrique Cardoso com a França têm quase 30 anos.
A mesma pessoa que chegou nesta semana a Paris como presidente do Brasil e líder de um governo de uma aliança de centro-direita era, em 1967, um intelectual exilado que ministrava aulas sobre Karl Marx a estudantes que meses depois protagonizariam as revoltas do Maio de 68.
O intelectual já era celebridade nos meios acadêmicos de esquerda da América Latina e começava a ser reconhecido nos EUA e na Europa como um dos principais autores da teoria da dependência.
Seu livro de maior impacto, "Dependência e Desenvolvimento na América Latina", foi lançado em 67, em parceria com o sociólogo argentino Enzo Faletto.
O sociólogo Fernando Henrique lecionou na Universidade de Nanterre, em Paris, entre meados de 67 e julho de 68, quando voltou ao Brasil. Parou lá pelas mãos do sociólogo Alain Touraine, desde a época seu maior amigo na França.
Referindo-se ao período de Nanterre, FHC disse à "Palyboy", em 1984: "Quem ensinava Marx a eles era eu, nesta época. Eles não sabiam nada de Marcuse, não tinham idéia".
Herbert Marcuse (1900-1979), pensador alemão de esquerda, membro da Escola de Frankfurt, é considerado o mentor intelectual das revoltas de 68 na França, sobretudo por seus livros "A Ideologia da Sociedade Industrial" e "Eros e Civilização".
Entre os alunos de FHC em Nanterre estava o líder da rebelião, Daniel Cohn-Bendit, estudante de origem alemã. O único aluno brasileiro de FHC no período, o sociólogo José Almino, filho do governador de Pernambuco, Miguel Arraes, e atual diretor de Pesquisa da Casa Rui Barbosa, no Rio, conta que ele era "o professor mais popular e articulado do curso".
Mesmo depois de voltar ao Brasil, ser aposentado compulsoriamente da USP pelo AI-5, em 68, e fundar o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), em 69, FHC nunca cortou as relações com a academia francesa.
No início dos anos 80, conseguiu um feito inédito para um intelectual latino-americano: ministrou, em 81, na condição de professor convidado, uma série de conferências no Collège de France, posto mais alto que um acadêmico pode alcançar na França.
Quem o convidou foi o filósofo Michel Foucault, que o conhecia desde a década de 60, quando esteve em São Paulo.
FHC ocupou no Collège, por um ano, a vaga aberta pela aposentadoria do papa do liberalismo francês, o sociólogo Raymond Aron.

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