São Paulo, quarta-feira, 29 de maio de 1996
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Menina forja sequestro e foge de prova

HOMERO BARBOSA
ENIO MACHADO

HOMERO BARBOSA; ENIO MACHADO
DA FOLHA VALE

P., 9, teme exame de ciências, sai da escola, liga para família e diz que 2 homens exigem R$ 40 mil para libertá-la

Com medo de fazer uma prova de ciências, uma estudante de 9 anos de Jacareí (68 km a leste de São Paulo) simulou seu próprio sequestro, na segunda-feira.
A própria menina negociou o resgate -estipulado inicialmente em R$ 40 mil e depois reduzido para R$ 10 mil e um carro.
A simulação mobilizou cerca de 20 policiais. A polícia chegou a deslocar uma equipe de investigadores para tentar localizar os supostos sequestradores e rastreou os telefonemas feitos pela menina.
P.M.S. disse à família e à polícia que dois homens -um branco e outro negro- a teriam sequestrado na escola Lamartine Delamari, quando ela entrou no banheiro. Segundo ela, um dos homens era policial e tinha um Jeep.
A menina teria sido levada para o bairro Rio Comprido, próximo a São José dos Campos (97 km a nordeste de São Paulo).
A estudante usou um telefone público para fazer contato com a família e comunicar as supostas exigências dos sequestradores.
No primeiro telefonema, ela disse que vinha sendo mantida em cativeiro em uma casa bege, com um menino loiro, de cabelos encaracolados, aparentando dez anos.
A estudante disse ter sido libertada quando os sequestradores descobriram que ela era pobre. No último telefonema, disse estar no Shopping Promovale, no centro de Jacareí, onde uma tia a pegou.
Na delegacia, a menina contou a história do sequestro, mas caiu em contradição ao relatar os telefonemas supostamente feitos do bairro do Rio Comprido.
Rastreamento pedido pela polícia mostrou que todas as 24 ligações feitas pela menina para uma tia foram realizadas de telefones públicos no centro de Jacareí.
Confissão
O delegado-assistente de Jacareí Antônio Fracaroli, 27, disse que a menina só confessou ter simulado o sequestro quando ele disse que prenderia o pai dela.
A menina teria então contado que fugiu da escola porque estava com medo de fazer a prova.
Segundo ele, P.M.S. disse que foi induzida a contar a história do sequestro por um homem que estava no shopping. A polícia não conseguiu localizar o homem.
"Eu nunca vi tamanha forma de persuasão em uma garota de 9 anos para forjar uma história com tantos detalhes", afirmou.
O pai, o mecânico Roberto Ramalho da Silva, 38, disse acreditar na versão da menina, de que um homem a teria induzido a inventar a história. "Ela é só uma criança e não teria condições de inventar sozinha uma história como essa."
A diretora da escola Lamartine Delamari, Nilce Jaine, disse que P.M.S. tem muita criatividade para redigir textos e apresenta um rendimento escolar muito bom, sem apresentar problemas.
P.M.S. foi levada para a casa de uma tia, em Jacareí, onde deve passar a semana.

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