São Paulo, quarta-feira, 29 de maio de 1996
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Túmulo de Begin sofre violação

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

O túmulo de Menachem Begin, primeiro-ministro israelense entre 1977 e 1983, apareceu violado ontem por pichações políticas.
Entre as inscrições: "Rabin foi morto, e nós vingaremos seu sangue com sangue".
Funcionários da Prefeitura de Jerusalém limparam as pichações, mas nada pode limpar o fato de que a sociedade israelense chega às eleições profundamente dividida.
Não é por acaso que o nome de Yitzhak Rabin, o premiê trabalhista assassinado em novembro passado, foi usado nas pichações.
Os trabalhistas e a esquerda em geral acusam a direita (da qual Begin foi o grande herói) de ter criado o clima que armou a mão do assassino de Rabin, o extremista religioso Yigal Amir.
Não foi à toa que o sucessor de Rabin, Shimon Peres, disse ontem que os partidos religiosos "em vez de unificar a nação, tornaram-se uma facção dela" (em alusão ao apoio dos religiosos a seu rival).
Peres é o primeiro a reconhecer que existe divisão em Israel. "Há uma grande parcela que se vê entrincheirada num certo campo e justifica qualquer reivindicação."
Mais do que dividido, o país parece fraturado em vários pedaços. O pedaço árabe é rechaçado duramente pelos conservadores, como o demonstra o slogan lançado por uma sintomática Força Tarefa pela Salvação da Terra e da Nação: "O que é bom para os palestinos não é bom para os judeus".
Faz parte da propaganda pró-"Bibi" dos religiosos ultra-ortodoxos, bem como sua outra face, a que diz: "Netanyahu é bom para os judeus".
Outra divisão é entre religiosos e leigos, que também se transporta para a política. Uma maioria de seculares (cerca de 60%) vota tradicionalmente com os trabalhistas.
O inverso se dá com os religiosos. Talvez por isso, "Bibi" tenha fechado ontem a campanha cortejando os ortodoxos: foi rezar junto ao Muro das Lamentações, o mais sagrado lugar do judaísmo.
Recebeu, em troca, a bênção do rabino Yitzhak Kadoori, que distribuiu amuletos em troca de votos para seu partido, o Shas (dos sefarditas, judeus orientais).
Mas essa divisão tem pouco a ver com a religião e, sim, com a política. Em tese, os rabinos ortodoxos jamais poderiam abençoar um candidato que se confessou adúltero ("Bibi"). Só o fazem porque, segundo o cartaz, "o que é bom para os palestinos, não é bom para os judeus".
(CR)

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