São Paulo, quarta-feira, 29 de maio de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Israel vai às urnas hoje sob dupla tensão
CLÓVIS ROSSI
Concorrem ao cargo de primeiro-ministro o atual premiê, o trabalhista Shimon Peres, e o líder do partido conservador Likud, Binyamin ("Bibi") Netanyahu. As ameaças de atentados, que continuam chegando, segundo os serviços de inteligência, levaram à montagem da maior operação de segurança nos 48 anos de história do Estado de Israel. Já a incerteza sobre o resultado fez até o "mago" das pesquisas no país, Hanoch Smith, desistir de prever o resultado. Adiciona tensão ao ambiente o fato de que os dois candidatos, nos seus pronunciamentos finais, usaram a mesma palavra forte ("crucial") para definir o pleito. É verdade que candidatos, em qualquer lugar, costumam usar adjetivos fortes para descrever eleições em que estão envolvidos. Mas, no caso de Israel, não é mera retórica. 'A não-paz' O que os 3,9 milhões de eleitores decidirão hoje pode não ser a paz ou a guerra, mas será certamente "a paz ou a não-paz", como prefere Uri Avnery, fundador do Bloco da Paz, conglomerado que defende, como o nome indica, a paz com os palestinos e os países árabes. Peres, como é óbvio, acha que a vitória de seu rival significará no mínimo "a volta da intifada", a revolta dos palestinos que se arrastou de 1987 a 1993 e causou a morte de 1.206 árabes e 179 israelenses. "Bibi", como é igualmente óbvio, acha que continuar o atual processo de paz é que levará a mais mortes ou, talvez, a coisa pior. Conduzirá ao neologismo "politicídio", criado pelo pensador ultraconservador Efraim Inbar, da Universidade Bar-Ilan, banco de cérebros da direita. "Politicídio" é, segundo Inbar, "o desmantelamento de um Estado", no caso, claro, Israel. Por isso tudo, não é uma eleição cujo resultado desperta apenas curiosidade nos países vizinhos. Diz respeito diretamente a eles, envolvidos no processo de paz. Isolamento Ehud Barak, chanceler e provável sucessor de Peres no trabalhismo, diz que avançar o processo de paz é um meio de melhorar a posição regional de Israel e isolar Estados perigosos como Irã e Iraque. "Esses fatores aumentam a segurança de Israel", diz Barak. É, portanto, uma manifestação de confiança nos árabes, o que reflete a estratégia geopolítica dos trabalhistas: uma ampla coalizão com os governos árabes moderados contra os fundamentalistas. O trabalhismo considera que os países árabes, com exceção de Iraque e Irã, não são mais os inimigos de Israel. O fundamentalismo, sim. Mas é inimigo também dos governos árabes moderados. Já Binyamin Begin, deputado e um dos nomes mais poderosos do Likud, descreve a região toda como "mau ambiente, traiçoeiro, perigoso, cheio de truques". Reflete a desconfiança nos árabes e resulta na convicção dos conservadores de que a paz virá como decorrência da força de Israel. "Os países árabes que fizeram a paz com Israel só agiram assim por causa da força de Israel e pela compreensão de que um Israel forte não pode ser varrido do mapa", explicita Dan Meridor, deputado e braço direito de "Bibi". São essas duas visões conflitantes de Israel e de seus vizinhos que estarão em jogo nas urnas. Texto Anterior: Hong Kong manterá democracia, diz chinês; Canadá prende russos suspeitos de espionar Próximo Texto: Segurança é a maior da história Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |